quarta-feira, 29 de novembro de 2017

LOBOTOMIA - Desastre (Álbum)


2017
Selo: Independente
Nacional

Nota: 9,5/10,0

Tracklist:

1.      Desastre Nuclear
2.      Correntes da Ignorância
3.      Ferida Aberta
4.      Engrenagem da Maldade
5.      Terra Sagrada
6.      Eles São Ferozes
7.      Grana no Saco
8.      A Doença é Você
9.      Voodoo
10.  Quem Vai Ganhar (Cover Simbiose)


Banda:


Edu Vudoo Lobotomia - Vocais
Guilherme Gotto - Guitarras
Daniel Brita - Baixo
Grego - Bateria
  

Contatos:

Instagram:
Assessoria: http://www.blacklegionprod.com/ (Black Legion Productions)


Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


As veias abertas do Hardcore brasileiro sempre foram (como ainda são) motivos de orgulho para os fãs do estilo. E por fãs, não fecho apenas naqueles setorizados, mas bangers, punks e outros que gostam do estilo. E sem puxa-saquismos ou mesmo apologias: ver o LOBOTOMIA, veterano quarteto paulista de HC/Crossover detonando ouvidos e pescoços após mais de 30 anos de luta é algo valioso e é um prazer que não se pode mensurar. E se preparem, pois “Desastre” é um disco viciante!

Óbvio que sendo o quarto disco do grupo, “Desastre” mostra que os anos lapidaram a música, que ganhou contornos Thrash Metal/Crossover, e assim, apresenta um trabalho um pouco mais técnico. Mas se está pensando que a agressividade seca e bruta do quarteto abrandou, pode esquecer: o LOBOTOMIA continua tão furioso e insano como em seus primeiros dias, e sem soar datado. Energia aos borbotões, agressividade elevada a níveis absurdos, e um linguajar descaradamente “na lata”, sem muita embromação. E é dessa forma que a banda resgata suas origens HC sem abrir mão de sua evolução, e mostrando que tem sangue quente e não foge da briga!

E quem ganha com isso somos nós, pois “Desastre” é uma tijolada no queixo de puro bom gosto e fidelidade às raízes!

Se você está procurando por uma produção sonora muito bem cuidada e limpinha, pode tirar o cavalinho da chuva. O grupo não faz nada que não soe cru, direto e firme. Mas pera lá: ninguém falou que é mal gravado, nem de longe é assim. O produtor conseguiu dar ao grupo uma sonoridade crua e seca, para que a ira contestadora de suas letras não se perca, mas sem que os instrumentos soem em timbres ocos. Não, “Desastre” tem uma sonoridade com uma estética direta e sem frescuras, mas com muita qualidade. E reparem que a banda prefere não gravar várias guitarras, pois durante os solos, se percebe a ausência de uma guitarra base, ou seja, fico próximo ao que se ouve nos shows. Além disso, a arte de Jorge Fidelman deixa claro o contexto lírico do álbum, em um trabalho gráfico simples, mas muito claro.

Quando “Desastre” começa a tocar, um sorriso de pura satisfação surge no rosto de quem conhece o trabalho do LOBOTOMIA de longos anos: eles continuam fiéis ao que foram, mostrando o motivo de serem tão respeitados. É caótico, bruto e cru, mas graças aos toques de Thrash Metal e Crossover, tudo fica ainda mais ganchudo e envolvente. E apesar de apenas ter Grego (bateria) da formação original, o DNA deles permanece inalterado.

“Desastre” é um autêntico discão, com músicas curtas e poderosas. E podemos nos arriscar a dizer que a feroz “Desastre Nuclear”, os riffs insanos e envolventes de “Correntes da Ignorância” (além dos ótimos backing vocals), a energia crua que flui de “Ferida Aberta” (o trabalho de baixo e bateria está ótimo), os murros HC/Crossover de “Engrenagem da Maldade” e “Terra Sagrada”, a curta e grossa “Eles São Ferozes” (o slamdancing é certo, pois que energia emana dessa música), o urro anarquista de raiva contra a desigualdade social em “Grana no Saco” (um vocal urrado à lá RDP e DISCHARGE antigo de primeira), o pogo raivoso de “A Doença é Você”, e “Voodoo” e sua pegada tremendamente insana são mostras claras de que temos uma banda revigorada e disposta a mostrar que ainda tem muito a dizer (e tocar). E como se já não fosse muito, eles ainda lançam mão de uma versão “lobotomizada” de “Quem Vai Ganhar”, do grupo português de Crust/Grindcore SIMBIOSE (que aparenta ter sido gravada em uma outra sessão, pois a qualidade difere um pouco da que se ouve no restante do álbum) . É muita porradaria em um disco só!

Se você, caro leitor, for mais experiente, já sabe o que esperar do LOBOTOMIA. Mas se for jovem, ouvindo “Desastre”, vai compreender de onde veio toda a energia do Thrash Metal e Crossover de uma vez só.

O LOBOTOMIA é uma instituição do Metal e do Hardcore do Brasil, sem sombra de dúvidas!




terça-feira, 28 de novembro de 2017

MORBID ANGEL - Kingdoms Disdained (Álbum)


2017
Importado

Nota: 8,7/10,0

Tracklist:

1. Piles of Little Arms
2. D.E.A.D.
3. Garden of Disdain
4. The Righteous Voice
5. Architect and Iconoclast
6. Paradigms Warped
7. The Pillars Crumbling
8. For No Master
9. Declaring New Law (Secret Hell)
10. From the Hand of Kings
11. The Fall of Idols


Banda:


Steven Tucker - Vocais, baixo
Trey Azagthoth - Guitarras, teclados
Dan Vadim Von - Guitarras
Scott Fuller - Bateria


Contatos:

Bandcamp:
Assessoria:

E-mail:

Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia



Todo estilo musical de raízes possui seus monstros sagrados. O Metal, por sua enorme sedimentação de subgêneros, possui bandas lendárias e que ajudaram a calcificar os elementos dos mesmos. No caso do Death Metal, um dos nomes mais importantes e fortes é o do quarteto MORBID ANGEL, de Tampa (Flórida). Qual fã do estilo poderia sequer pensar em excluir a trinca “Altars of Madness”, “Blessed are the Sick” e “Covenant” dos discos mais influentes do Death Metal? E não seria pecado algum afirmar que a banda seja tão importante para o gênero como POSSESSED e DEATH. Mas desde “Domination” para cá, mudanças de formação, longos hiatos do estúdio e discos aquém do que a banda pode produzir os colocou sob suspeita. Mas não adianta: “Kingdoms Disdain” vem para mostrar que quem é mestre na coisa, sempre sabe tirar um coelho da cartola.

Para início de conversa, se o disco não se compara aos clássicos acima mencionados, está muito longe de ser uma brochada nauseante como “Illud Divinum Insanus”. Saíram David Vincent e Destructor, e Trey gravou sozinho todas as linhas de guitarra, enquanto o baixo e os vocais ficaram mais uma vez com Steven Tucker (que reassumiu seu posto). Na bateria, Scott Fuller (do SENTINEL BEAST, entre outros) assumiu o lugar de Tim Yeung (que por sua vez, herdara o posto de Pete Sandoval). No fundo, “Kingdoms Disdained” vem em um momento crítico, com a missão de reconstruir o nome do MORBID ANGEL. E ele se sai muito bem na tarefa, digamos de passagem.

O ex-guitarrista do próprio grupo, Erik Rutan, foi o produtor escolhido para a tarefa árdua. E se saiu muito bem, deixando a sonoridade do grupo brutal e opressiva, com ênfase nos timbres mais graves das guitarras. Isso faz com que as músicas soem pesadas e cruas, como o Death Metal precisa ser, mas com aquela dose de clareza necessária para entendermos o que a banda está tocando. Ou seja: a sonoridade é agressiva, mas feita com muita qualidade.

Na arte gráfica, que causou alguma polêmica no Brasil, temos um trabalho bem feito de Ken Coleman (que chegou a trabalhar com o WARFATHER, outra banda de Steve), que deixou a apresentação não tão tenebrosa e caótica como estamos acostumados, justamente pelo foco em tons de vermelho que não são tão escuros. Mas justamente por isso, caiu bem.

Ah, sobre as músicas?

Bem, é evidente que o grupo não queria cair nos erros de “Illud Divinum Insanus”, logo, apostou na fórmula que rendeu discos como “Domination” e “Gateways to Annihilation”, embora “Kingdoms Disdained” soe mais maduro. Além do mais, a capacidade da banda arranjar as músicas de maneira que surpreenda o ouvinte continua presente. Poderíamos até dizer que ele dá sequência ao que a banda fazia antes de Steven sair e David voltar.

Temos 11 faixas de puro esmaga-crânios, se destacando a velocidade intensa e o trabalho técnico de “Piles of Little Arms” (reparem como a base rítmica está bem, e a bateria está fantástica), a pancadaria desenfreada de “D.E.A.D.” (as mudanças de ritmo são ótimas, e que riffs de guitarra), o ritmo mais lento e sujo de “Garden of Disdain” (que tem um jeitão azedo meio “Where the Slime Lives”), a pegada mais trabalhada no meio da violência explícita de “Architect and Iconoclast”, o jeitão ganchudo e cadenciado de “Paradigms Warped”, o murro nos dentes chamado de “For No Master” (música rápida e ganchuda, cheia de bons arranjos de baixo e bateria, e daquelas que causarão moshpits nos shows), o peso esmagador da opressiva “From the Hand of Kings” e de “The Fall of Idols”. Elas são as melhores, mas o disco de ponta a ponta é uma prova da reabilitação do grupo.

Ah, os solos? Bem, Trey continua sendo o Eddie Van Halen do Death Metal. Acho que essa comparação já diz tudo.

Se você é fã da primeira passagem de Steven na banda, ouça “Kingdoms Disdained” sem medo. Se você é fã de Death Metal, vai gostar. Se você é dos que vivem de passado, nem pretendo gastar meu latim, pois é perda de tempo. Mas esse disco mostra que o MORBID ANGEL está de volta e disposto a ser o nome forte que sempre foi.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Underground carioca em luto: morre Nilton Magalhães, o Bahiano Gore Grind


No final da tarde de 27/11/2017, soubemos do falecimento de Nilton Magalhães, o conhecido Bahiano, vocalista da banda BAGA.

Não sabemos ainda a causa mortis, mas fica em todos nós do cenário underground/alternativo do Rio de Janeiro, nossa singela homenagem. O cenário do RJ perde um amigo, um irmão, uma figura carismática e querida por todos, uma pessoa de pensamento político forte e esclarecido, um amante dos animais, e uma das figuras mais emblemáticas do underground.


Nas palavras de Daílson Sabino, o conhecido DJ Terror (administrador/dono do point Subúrbio Underground). Peço licença para usá-las, Terror.

"(((( + 27 / 12 / 83 - 27 / 11 / 17 + ))))

Uma das figuras mais carismáticas do Underground Carioca, Baiano, um dos vocalistas da banda BAGA, acaba de nos deixar!
Figura doce, amiga, parceira, defensor dos animais, e uma das presenças mais constantes em eventos do Subúrbio Alternativo.

Fica aqui nossa homenagem, a essa ilustríssima pessoa que tanto fez pela cena Underground Carioca junto aos seus parceiros de banda, uma perda irreparável !!

" VÁ EM PAZ BAIANO, JÁ ESTÁ FAZENDO FALTA"

(Por Dailson Terrock - DJ Terror)"

Este autor, que teve a felicidade de conhecer Mestre Bahiano, agradece pela amizade, pela oportunidade de sermos amigos, e desejo que, do fundo do coração, nos encontremos na próxima encarnação. E que sejamos amigos mais uma vez, e eu possa aprender contigo de novo...

OM SHANTI, meu querido amigo/irmão Bahiano, parta em paz, e até a próxima...

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

HELL’S PUNCH (Thrash Metal - Belo Horizonte/MG)


Início de atividades: 2013   
Discos lançados:  “Burn It Down” 2016
Formação atual: Sérgio Ferreira (vocais, guitarra), Mark (guitarra), Wesley Ribeiro (baixo fretless), André Bastos (bateria) 
Cidade/Estado: Belo Horizonte/MG


BD: Como a banda começou?

Sérgio: Começou como uma vontade de voltar a fazer um som, uma decisão minha com meu irmão, que deixou a banda depois de um ano. Queria apenas fazer jams. Aí convidaram a gente para fazermos um Big Four Cover tocando Slayer, e aí obvio que aceitamos. Depois de 3 shows, achamos que tínhamos que compor e fazer nosso som e assim começou tudo de verdade. Estamos tocando há décadas, tinha uns 10 anos que não fazia som com o Overdose e estava na fissura para voltar a tocar. Mark e Wesley também meio parados com o Sextrash e Wesley tinha saído do Drowned e Humurabi... André está na ativa demais, toca em várias bandas em BH, acho que era o que mais estava tocando… Enfiamos as caras e compusemos disco, gravamos e saímos tocando. Nosso primeiro show já foi abrindo para o Suicidal... kkkkkk... Foi engraçado até... Mas começamos com o pé direito! 


BD: O que os incentivou a formarem uma banda?

Sérgio: Somos músicos desde novos acho que está no nosso sangue, acho que é isso. Nós quatro respiramos música e por caminhos diferentes chegamos onde estamos hoje, com trajetórias diferentes, mas agora felizes com o HELL’S PUNCH


BD: Quais as maiores dificuldades que estão enfrentando no cenário?  

Sérgio: Cara, a cena está caída demais, shows vazios, prejuízos e etc... Amador total.  Acaba que poucas bandas vivem de Metal hoje no país, 2 ou 3, e nem sei se vivem bem, mais.... Eu fui da época ainda que gravadora dava suporte, vendia-se CD, LPs e etc. Fiz 4 turnês mundiais com o Overdose em esquemas totalmente profissionais. Tour Manager, tour support, som, luz, agência de turnê, gravadora, merchandising, despesas pagas, cachê bom e etc... Hoje, vejo bandas tendo que pegar incentivo cultural para viajar em esquemas amadores, tocando para meia dúzia de pessoas. Vão sozinhos, na cara e na coragem, para tentar algo em esquemas que, às vezes, são piores que aqui. Isso é triste, além de não achar isso muito legal (usar recursos do governo). É uma pena. Eu acho que Metal e HC são sons para poucos, mas não exageremos né (risos)?

Tem que ter gente nos shows, tem que ter mosh e hoje tá complicado.   


BD: Como estão as condições em sua cidade em termos de Metal/Rock?

Sérgio: Aqui (BH) é dominada por banda cover... kkkk.... Acho tão engraçado por que chegam a ter fã-clube, kkkkk... Fã de cover chega a ser surreal, mas é isso, embora algumas sejam homenagens lindas a bandas (nada contra só acho que não deveria ser só isso)... Só tem público show cover, e para mim isso demonstra a estupidez cultural que vivemos também. Um ou outro lugar na cidade ainda dá para tocar com público razoável - Stonehendge, Matriz... Acho que são esses locais ainda vivos para o som pesado. Mas comparado à cena de dos anos 90, não tem nem 10% do público. Triste...


BD: Conseguem tocar com regularidade?

Sérgio: Até que conseguimos tocar um pouco, mas bem menos que acho que seria legal. 


BD: A estrutura é boa?  

Sérgio: Poucos lugares têm estrutura boa, vivemos uma crise não só no país como também no Metal e HC nacional e mundial. Mas tocamos por amor e vamos continuar a meter bronca!! Segundo CD já está sendo composto e a gente mete as caras e fazemos mesmo!!! Fazemos porque amamos isso! 


BD: Hoje em dia, muitos gostam de declarar o fim do Metal, já que grandes nomes estão partindo, e outros parando. Mas e vocês, que são uma banda, como encaram esse tipo de comentário?

Sérgio: Metal nunca vai acabar, mas sim, passa por crises. Acho que sangue novo tem que aparecer e por vezes coisas boas aparecem mesmo. NUNCA vai morrer, mas das crises que vivi nessas 3 últimas décadas essa é a pior, sem dúvida! Quem gosta de Metal e HC não liga para crise nem porra nenhuma, tá no sangue! Mas agora está preocupando um pouco mais. Acho que há uma estupidificarão enorme da juventude e banalização da cultura e sendo assim acho que o metal, que é um som de alto nível de maneira geral, tende a sofrer mais.   


BD: Em termos de Brasil, o que ainda falta para o cenário dar certo? Qual sua opinião?  

Sérgio: Cara, acho que estamos no ciclo de baixa agora, mas acho todos tem que participar dos eventos, temos que tocar e foda-se! Acho que só assim a coisa pega. Se não comparecermos não vai ter incentivo em fazer show de Metal. Acho que Metal sempre foi underground e quando vira mainstream dá merda, mas o underground está sem se movimentar e temos que retomar isso tocando, gravando bons sons e unindo esforços para fazermos bons eventos.


BD: Deixe sua mensagem final para os leitores.

Sérgio: Porra, obrigado pela força Metal Samsara, continuar apoiando é o modo de fazermos nossa parte para coisa melhorar para todos que verdadeiramente curtem Metal. À galera das antigas e galera nova, o HELL’S PUNCH está por aí tocando em todas as mídias sociais, streaming, para baixar o CD, e ainda temos CD físico à moda antiga pela Cogumelo Records. Façam contato! Sempre batemos um papo nas mídias com a galera que curte no Brasil e fora tb. Tem sido muito legal! Não interessa o quão mal o mercado está, estaremos fazendo som e tocando para quem quiser ouvir, todos são bem-vindos!!!!     

Links para contatos:


Links para audição:


Veja o vídeo oficial de “Hate” :

MATAKABRA - Marginal (EP)


2017
Selo: Independente
Nacional

Nota: 9,3/10,0

Tracklist:

1. Ogum (intro)
2. No Açoite
3. Mordaça


Banda:


Rodrigo Costa - Vocais
Fernando Marques - Guitarras
Rafael Coutinho - Baixo
Theo Espindola - Bateria

Convidado:

Bruno Saraiva - Teclados
Professor Jeison Silva - Percussões


Contatos:

Site Oficial:
Twitter:
Assessoria: https://www.facebook.com/cangacorockcomunicacoes/ (Cangaço Rock Comunicações)


Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


Maus tratos a 95% da população do nosso país. É sempre assim, é a história de 517 de uma nação que erra e não aprende. Continuam presentes no dia a dia o ódio aos menos afortunados, aos homossexuais, ao afrodescendente e indígena, ou seja, em tudo. Ódio que necessita ser extirpado, nem que em uma dolorosa cirurgia sem anestesia, pois nada justifica tanta opressão, tanto ódio, tanta afronta às diferenças. E carregados de revolta suficiente para rasgar os céus, o agora quarteto pernambucano MATAKABRA chega com seu mais recente trabalho, o EP “Marginal”.

Se em “Prole” (EP anterior da banda) eles já davam sinais que não são a típica banda de Metalcore com passagens limpas e de melodias evidentes, aqui fica mais clara a vocação extrema do grupo. Ainda com uma sonoridade moderna (clara pelos timbres gordurosos dos instrumentos, apesar de bem definidos), percebe-se que o grupo está ainda mais raivoso e extremo, quase como se pudéssemos chamar o estilo musical deles de Death Metalcore. E não, não seria nenhuma heresia, já que elementos os elementos de Death Metal de antes estão mais evidentes dentro da musicalidade moderna do quarteto.

Produzido por eles mesmos, a sonoridade de “Marginal” é ainda mais abrasiva e brutal que em prole. A afinação baixa das guitarras e baixo deixaram tudo ríspido agressivo, mas a sonoridade continua limpa e intensa. Sim, o grupo conseguiu um bom nível de sonoridade mais uma vez, mas um passo adiante do que já haviam mostrado antes.

A arte da capa evoluiu, em um trabalho muito bom de Pedro Muniz, deixando claro que o trabalho do grupo é focado em algo agressivo até os ossos.

O EP abre com “Ogum”, uma introdução que começa com efeitos climáticos, para logo surgir a sonoridade de berimbaus, evocando a herança afro-brasileira de todos nós. Mas quando “No Açoite”, recheadas por influências modernas e com baixo e bateria trovejando em ritmos quebrados e técnicos (mas ouve-se um solo de guitarra caótico, mas bem feito). E “Mordaça” mostra um lado um pouco mais melodioso, embora a brutalidade reine, mostrando vocais urrados ótimos e riffs de guitarra de cair o queixo (e mesmo algumas partes rappeadas surgem, cheias de efeitos de teclados, deixando tudo ainda mais moderno).

Torno a dizer: já passou da hora do MATAKABRA gravar um álbum, pois o grupo é ótimo!

Ouçam, se apaixonem, e aporrinhem bastante seus vizinhos!

PRIMORDIUM - Old Gods (Álbum)


2017
Selo: Rising Records / Metal Under Store
Nacional

Nota: 9,3/10,0

Tracklist:

1. Pesejet (intro)
2. Num (Pralaya)
3. The Awakening (Manvantara)
4. God of Light
5. Nuit
6. Geb’s Throne
7. Anhu Shu
8. Iunet Mehet (Pillar of North)
9. Lady of Water
10. The Scribe
11. Chernoby (Hammeron Cover)


Banda:


Gerson Lima - Vocais
Thiago “Lux Tenebrae” Varella - Guitarras, violões, didgeridoo, backing vocals
Alex Duarte - Guitarras, backing vocals
João Felipe Santiago - Baixo, violões, samples, backing vocals
Lucas Somenzari - Bateria, violões, backing vocals

Convidados:

Garibaldi Soares - Vocal urrado em “Iunet Mehet (Pillar of Water)”
Flávio França - Guitarras em “Chernobyl”
Irlan Maciel - Violão em “God of Light”
Luciano Hunter - Vocais em “Nuit”
Thormiank - Guitarras em “Anhu Shu”
Farid Almohamed - Percussões em “Iunet Mehet (Pillar of Water)”
Necrovomit - Cítara em “Pesejet”, flauta Hulusi em “Iunet Mehet (Pillar of Water)”
Ariane Salgado - Violino em “The Awakening”, vocais femininos em “Nuit”


Contatos:

Site Oficial:
Instagram:
Assessoria: www.braunamusicpress.com (Brauna Music Press)


Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


Em termos culturais, o Metal do Brasil anda progredindo. Muitos estão fugindo do “mais do mesmo” em termos de letras e buscando algo diferente, numa forma de se destacarem do tsunami de certos estilos. Alguns realmente se superam, criando um trabalho cultural de primeira, mas ao mesmo tempo, com o lado musical ditando as regras e se mostrando. E de Natal (RN), terra tão fértil e cheia de boas bandas, o experiente PRIMORDIUM vem mostrar sua força mais uma vez com seu mais recente trabalho, “Old Gods”, seu segundo Full Length.

Óbvio que algum ou outro fã vai seguir os olhos e falar em NILE, pois a banda aborda a mitologia egípcia em suas letras (em geral, os mais radicais são assim). Mas quem se guia pelos ouvidos vai encontrar uma banda com um Death Metal diferenciado: agressivo e bruto, mas lapidado por boa técnica e algumas melodias soturnas que surgem aqui e ali. Ao mesmo tempo, o uso de percussões (que dão, ao mesmo tempo, um ar oriental e um jeitão regional), flautas, cítaras e violinos dão aquele requinte especial, aquele traço de personalidade própria que eles buscam. E dessa forma, “Old Gods” mostra o quanto o trabalho do quinteto é precioso e diferente.

Para resumir: o PRIMORDIUM veio para chocar os mais conservadores e conquistar novos fãs.

João Felipe Santiago (baixista do grupo) foi o produtor, além de mixar e masterizar “Old Gods”. A sonoridade busca ser clara suficiente para que o ouvinte consiga compreender a complexidade musical do quinteto, mas a crueza nos tons de guitarra e bateria poderia ser menor. Não chega a estragar o trabalho, mas o grupo merecia uma sonoridade mais esmerada nesse aspecto. Mas está boa, pois compreendemos claramente os instrumentos e vocais, percebemos os arranjos, e, além disso, tem peso e agressividade.

A arte da capa é de Sandro Freitas, e ficou muito boa, mostrando a concepção lírica do grupo. E o layout e encarte são de Alcides Burns, conhecido designer gráfico. Tudo para que a arte visual seja tão grandiosa como o lado musical.

E musicalmente, o PRIMORDIUM corresponde. Justamente pela capacidade de criarem e pela falta de pudores com as famosas “regrinhas do Metal”, eles te potencial para se tornarem um dos maiores nomes do Metal nacional. Arranjos bem feitos, uma dinâmica instrumental que não nos deixa entediados (pelo contrário, nos prende ao trabalho musical da banda), e sem falar nos convidado que deram um toque todo pessoal e abrilhantam “Old Gods”. Pessoas de bandas como SON OF A WITCH, EXPOSE YOUR HATE, TONANTZIN, NIGHTHUNTER, MIASTHENIA, OMFALOS, AGNIDEVA, BOCA DE SINO, e TERRORZONE.

Não é possível falar de uma canção em especial que seja, pois eles capricharam.

Por mera necessidade de conceder uma referência inicial aos ouvintes, destacam-se “Num (Pralaya)” (brutal e opressiva, mostrando riffs de primeira, mas logo as percussões regionais dão aquela ambientação oriental que nos seduz), a ganchuda e envolvente “The Awakening (Manvantara)” e mudanças de ritmo (cheia de belos violinos, percussões, vocais femininos aqui e ali, além de orquestrações bem feitas e do ótimo trabalho de baixo e bateria), o peso opressivo e azedo de “God of Light” e suas passagens sutis de teclados (e mais uma exibição técnica de gala por parte de baixo e bateria) e “Geb’s Throne” (esses guturais à lá Karl Willets são ótimos), o massacre de riffs e solos animais na diversificada “Anhu Shu”, a beleza étnica da instrumental “Iunet Mehet (Pillar of North)”, e os tempos quebrados e linhas melódicas de “The Scribe” (que são maravilhosas). Mas não se pode deixar de falar na roupagem Death Metal soturna e mais atual que eles deram à “Chernoby” (canção do finado grupo de Thrash/Heavy Metal HAMMERON, conterrâneo deles) é maravilhoso, narrando o terror do punho nuclear desencadeado pela usina de Chernobyl, em Pripyat (Ucrânia).

No mais, “Old Gods” marca um momento decisivo na carreira do PRIMORDIUM, pois desse disco em diante, o rupo já não cabe mais no Brasil. Hora de pensarem em voos mais altos.

TORRENCIAL - Nação Em Fogo (Álbum)


2017
Selo: Mulambo S.A.
Nacional

Nota: 8,8/10,0


Tracklist:

1. Ilusão
2. Perdedora
3. Trinta Segundos
4. Evolução/Destruição
5. Ao Redor
6. Nação em Fogo
7. Guerra Após Guerra
8. Busque e Confronte
9. Suicídio
10. V. E. M. O.


Banda:


Luciano Pinguim - Vocais, guitarras
Carlos Ferreira - Guitarras
Guilherme Tosta - Baixo, vocais
Anderson Gonçalves - Bateria

Convidados:

Alexandre de Orio - Violões em “Ilusão” e “Busque e Confronte”, guitarra solo em “Busque e Confronte”
Rafael Paiola - Orquestrações e sequenciamento em “Ilusão”
Rafael Augusto Lopes - Guitarra solo em “Ao Redor” e “Evolução/Destruição”


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Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


Desde que o Thrash Metal retornou dos porões do underground no final dos anos 90, nota-se que o estilo foi se atualizando e ganhando contornos mais modernos, embora muitos ainda prefiram algo mais retrô em termos sonoros. Seja como for, ver o estilo vivo e produzindo novos nomes é algo sensacional. E finalmente, após anos de muito suor e luta, o TORRENCIAL, quarteto de Itapevi (SP) chega com seu primeiro álbum, “Nação Em Fogo”.

Preservando aspectos da velha escola americana, mas com uma forte conotação moderna em termos de agressividade sonora, mais algumas influências de HC/Crossover (reparem nos vocais e perceberão a influência de grupos da escola de Nova York do estilo), e uma musicalidade muito bem escopada, o TORRENCIAL vem mostrar que tem música e raça para chegar longe. Vocais urrados, backing vocals raçudos, guitarras faiscando em riffs ótimos e solos caprichados, baixo e bateria com um trabalho de muito peso e boa técnica, é bom prepararem-se para torcicolos e ouvidos doloridos!

Em termos de produção, o quarteto se junto ao conhecido produtor e guitarrista Rafael Augusto Lopes para montarem a sonoridade de “Nação Em Fogo”. Percebe-se que a maior preocupação foi em deixar o som claro e inteligível para o ouvinte, pois os timbres são bem definidos, e a sonoridade ficou mais seca. Mas ao mesmo tempo, esses timbres claros são muito agressivos, dando peso às músicas sem maltratarem as linhas melódicas das bandas. Poderia ser melhor em alguns aspectos, mas o resultado final está muito bom.

Na arte gráfica, Jean Michel (da DSNS Artwork) fez uma apresentação visual intensa, focada em tons escuros de azul e vermelho, ficando assim algo agressivo e chocante aos olhos, mostrando toda a carga ideológica das letras do grupo.

O trabalho do grupo, feito na marra, na cara e na coragem, merece elogios. Mesmo não sendo inovador, tem personalidade forte e é capaz de detonar moshpits insanos. Percebe-se que o TORRENCIAL tem uma preocupação estética com os arranjos, mas sem que as músicas soem excessivamente técnicas ou sem espontaneidade.

E se preparem, pois “Nação Em Fogo” transborda em garra e muita rebeldia em formato musical. E músicas como a raivosa e bem trabalhada “Ilusão” (onde nos momentos mais cadenciados se sente a força do HC nova-iorquino, além de baixo e bateria estarem muito bem, e termos a participação de Alexandre de Orio nos violões durante a introdução), a carregada no peso e ritmos mais cadenciados “Perdedora”, o arranca-rabos totalmente Crossover da curta “Trinta Segundos” (que guitarras e backing vocals), a velocidade e técnica apresentadas em “Evolução/Destruição” (onde Rafael Augusto Lopes dá uma canja nos solos), a raiva que transpira de “Nação em Fogo” e seus arranjos dinâmico (reparem como a interpretação dos vocais é muito boa), a pegada Thrash/HC de “Guerra Após Guerra” (que arranjos de guitarras!), a diversificada em termos de ritmos “Busque e Confronte” (baixo e bateria estão excelentes, mas com um solo de Alexandre de Orio que dá aquele brilho especial à canção), e a tortura Thrasher ouvida em “V. E. M. O.” formam a espinha dorsal da qualidade do disco, embora todas as músicas sejam ótimas.

Demorou, foi sofrido e suado, mas finalmente, com “Nação Em Fogo”, o TORRENCIAL mostra que tem talento e espaço no cenário do Metal brazuca.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

ST. MADNESS - 55 (Live Álbum)


2017
Importado

Nota: 9,3/10,0

Tracklist:

1. Drowning on Air
2. Death Drives a Buick
3. Metal to the Death and Beyond
4. Don’t Be Like the Blind
5. Can’t Help Falling in Love With You
6. Arizona
7. Day of the Dead
8. The Anti-Superhero
9. This Is Your Reality
10. Bloodlustcapades


Banda:


Prophet - Vocais
Sid Ripster - Guitarras
Scarlet Rivers - Baixo
Randal Maddrums - Bateria


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Assessoria:


Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


Um pouco de loucura faz parte de um cotidiano saudável a todos os que vivem nesse mundo, não importando que tipo de música se ouve, etnia, gênero ou nacionalidade. Não, sair do normal é algo que ajuda a suportar as pressões de todos os dias. E em termos de loucura musical, o quarteto norte-americano do Arizona ST. MADNESS (velho conhecido dos brasileiros) chega para mais um round, dessa vez com “55”.

Sim, é um disco ao vivo desse quarteto insano que nos abastece de boa música e nossa dose diária de insanidade há 24 anos. Sempre fazendo uma forma de Metal agressivo e com o Groove moderno dos anos 90, mas cheio de boas melodias e refrãos ganchudos. E sendo o aniversário de Prophet (vocalista/líder do grupo), a energia que se ouve da banda é absurda, sempre mantendo peso, energia e muito alto astral. É empolgante!

As gravações ocorreram no “The Hall at Pankester’s Too”, em Scottdale (Arizona), tendo produção, mixagem e masterização de Patrick Flannery e Chris Pentecost. Desta forma, a sonoridade do CD é ótima, mantendo a sensação e energia de uma apresentação do ST. MADNESS, mas mantendo a clareza e o peso necessários para a audição. E tudo muito bem feito.

Se há algo no trabalho do ST. MADNESS que sempre precisa ser exaltado é a honestidade com sua música. Sim, pois somente dessa forma esses 24 anos de vida podem significar algo. E se preparem, pois o estilo pessoal do quarteto de tocar vai dobrar seus conceitos e o tornará fã deles. Sim, eles querem isso, e você não vai resistir (nem tente).

E as dez canções de “55” são escolhidas a dedo, cada uma delas um autêntico massacre de energia. E se preparem, pois canções como as sujas e envolventes “Drowning on Air” e “Death Drives a Buick” (ambas com um trabalho ótimo de baixo e bateria, com aquele ritmo sujo e deliciosamente cheio de Groove), a clássica “Metal to the Death and Beyond” (uma faixa um pouco mais cadenciada e com ótimos vocais e guitarras), a surpreendente versão do grupo para “Can’t Help Falling in Love With You” (que ganhou peso e crueza absurdos, mas mostrando como Elvis Presley é uma influência enorme para o cenário norte-americano em termos de linhas melódicas vocais), a dose de peso e feeling “Southern Rock” de “Arizona” e seu contraste entre momentos limpos e outros pesados, o fluir de energia pura de “Day of the Dead” e “This Is Your Reality”. E para dar um gostinho do que vem por aí, fecham o show com a faixa-título do vindouro álbum em fevereiro de 2018, “Bloodlustcapades”, que é uma declaração de amor da banda a seu estilo, com muita empolgação e um ritmo cadenciado gorduroso e envolvente, mas a mesma loucura de sempre.

Ou seja, o ST. MADNESS nunca perde a mão, sempre mostrando que estão firmes na pregação do Metal.

Keep Making Evil Fun!!!