terça-feira, 2 de janeiro de 2018

MALEFACTOR - Sixth Legion


Tipo: Full Length
Ano: 2017
Nacional


Tracklist:

1. Counting the Corpses
2. Stygia
3. They Speak My Name in Tongues
4. The Styx River
5. Behold the Evil
6. Sodom and Gomorrah
7. Down at the Valley of the Great Encounter
8. The Humanist
9. Cross and Fiction
10. Borgia


Banda:


Lord Vlad - Vocais, baixo
Danilo Coimbra - Guitarras, orquestrações
Jafet Amoêdo - Guitarras

Convidados:

Thiago Nogueira - Bateria
Paulo Henrique Santiago - Orquestrações, flauta em “Down at the Valley of the Great Encounter (Horrified cover)”


Ficha Técnica:

Lord Vlad - Produção
Danilo Coimbra - Produção
Jafet Amoêdo - Produção
Vicente Fonseca - Mixagem, masterização, produção
Sérgio “Baloff Borges - Assistente de letras
Argos - Arte gráfica


Contatos:

Site Oficial:
Bandcamp:
Assessoria:


Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


Durante o período de expansão do Império Romano, duas legiões de soldados se tornaram famosas: a Legio VI Victrix (“Sexta Legião Vitoriosa”) e a Legio VI Ferrata (“Sexta Legião Encouraçada”). A primeira é conhecida por suas campanhas na Hispânia, Germânia e Britânia, enquanto a segunda (tida por muitos historiadores como uma sequência da primeira, ou mesmo tendo em suas fileiras muitos veteranos da mesma, uma tradição dos tempos de Júlio César) lutou nas guerras civis romanas entre 40 e 30 DC, sendo mandada posteriormente para a Judéia, onde permaneceu por dois séculos.

Mas tão encouraçados ou vitoriosos são os Centuriões do Metal extremo nacional, o MALEFACTOR, de Salvador (BA), que chega com seu mais recente álbum, “Sixth Legion”.

Reduzidos a um trio nas gravações, o grupo não se fez de rogado e continua sua tradição musical: é quase impossível rotular o trabalho deles, pois o amálgama de influências é tão grande que pode iludir a percepção de muitos. Melodias de Metal tradicional que surgem nas guitarras convivem bem com vocais ora urrados, ora normais e algumas intervenções de timbres rasgados (embora mostrando alguns tons vocais diferentes), fora a técnica musical muito boa de baixo e bateria, fora as orquestrações. E o amadurecimento de 26 anos de estrada fez com que a banda soasse ainda mais coesa que antes, mais firme e pesada, mas sem perder a ótima noção harmônica agressiva.

Traduzindo: “Sixth Legion” é mais um clássico da banda, mas mostra-os em um patamar qualitativo absurdo.

O time que trabalhou na produção do disco caprichou em termos de qualidade: a sonoridade de “Sixth Legion” é excelente, pois ela conseguiu aliar peso e clareza de forma perfeita, sem contar que o peso está abusivo. Os timbres sonoros foram escolhidos muito bem, e isso no caso deles nunca é simples (como dito acima, mixar tantas influências é um trabalho enorme). Além disso, no que tange a apresentação visual, tudo está muito caprichado em termos de capa e encarte, sempre com tudo trabalhado em tons de cores não muito convencionais. Mas o MALEFACTOR está longe de ser convencional.

A verdade seja dita: neste que é o sexto disco da banda, o foco instrumental da banda está bem mais homogêneo, bem mais criativo que antes. E a qualidade musical está distribuída de forma homogênea pelas 10 composições. Sem falar que a capacidade de criar arranjos está ótima (reparem bem nos solos), e como as músicas grudam nos ouvidos, algo que não é comum em bandas de Metal extremo. Ou seja, “Sixth Legion” é um disco onde tudo é possível!

O ataque dessa Legião começa com a trabalhada e veloz “Counting the Corpses”, onde melodias súbitas e criativas surgem em vários momentos das guitarras (Danilo e Jafêt se mostram muito entrosados, com riffs e duetos perfeitos). Ela é seguida de “Stygia”, com tempos não tão velozes, e que é rica em arranjos e melodias (o uso de timbres limpos nos vocais de Lord Vlad em algumas artes ficou algo maravilhoso). Um pouco mais cadenciada e fria como aço temperado em fogo e gelo é “They Speak My Name in Tongues”, capaz de empolgar até mesmo um defunto (reparem bem como baixo e bateria estão debulhando nas partes instrumentais, entremeados por teclados sinistros). A beleza de “The Styx River” não pode ser medida, já que as partes com guitarras limpas e teclado seduzem nossos ouvidos, e nas partes mais pesadas, os vocais variam muito entre guturais, rasgados e limpos, mantendo o peso e melodias à lá JUDAS PRIEST em equilíbrio (fora as referências ao universo de Robert Howard, criador de Conan). Mantendo o enfoque técnico e com uma pegada bem Melodic Death Metal é “Behold the Evil”, mas sempre com a pancadaria garantida pelo ótimo trabalho da base rítmica. Mesmo mantendo as harmonias, “Sodom and Gomorrah” é bem agressiva e rápida, cheia de riffs causticantes e boas mudanças de tempos (preciso comentar que o tema central das letras são as cidades de Sodoma e Gomorra, cuja destruição é narrada no livro do Genesis?). Mostrando que são capazes de coisas que até os deuses duvidam, eles fizeram uma versão grandiosa para “Down at the Valley of the Great Encounter”, do grupo grego HORRIFIED, com muito peso e melodia nas guitarras e boas passagens sinistras, onde flautas e orquestrações surgem, mas sempre com a personalidade do MALEFACTOR. Partes tenebrosas com vocais sinistros introduzem “The Humanist”, também com passagens mais lentas e envolventes com a presença de teclados, belos vocais limpos aqui e ali, riffs de guitarras envolventes (e tudo para envolver o ouvinte na aura densa do discurso de John Milton, interpretado por Al Pacino, em “O Advogado do Diabo”). Com uma levada extremamente ganchuda é a azeda “Cross and Fiction”, permeada por uma densa atmosfera caótica e arranjos mais agressivos, onde baixo e bateria mais uma vez roubam a cena, embora seja a música mais simples do disco em termos de arranjos e mudanças rítmicas. E fechando, temos a ambientação opressiva e melancólica de “Borgia”, outra em que o quarteto mostra uma abordagem mais direta, embora as passagens limpas e melodiosas sejam um deleite, e para quem não percebeu, a letra fala do Papa Alexandre VI, nascido Rodrigo Bórgia, ou Roderico de Borja, espanhol em cujo papado de dez anos (morreu 7 dias antes de completar 11 anos no trono de São Pedro) os escândalos se acumularam no Vaticano, tanto que o nome Borgia se tornou sinônimo de libertino e nepotismo, mas também é conhecido pelo patronato das artes (lembrando que ele foi Papa durante o período Renascentista).

No mais, pouco se pode falar de “Sixth Legion” que não seja que este é um dos melhores discos de Metal produzidos no Brasil. E falo sério!

Avante, Centuriões! Avante, MALEFACTOR!

“TODOS IGUAIS, TODOS PELO METAL!”

Nota: 100%

TCHANDALA - Resilience


Tipo: Full Length
Ano: 2017
Selo: Independente
Nacional


Tracklist:

1. The Flame
2. Labyrinth
3. Valley of Greed
4. Lamento do Velho Chico
5. Tears of River
6. Echoes Through the Fourth Dimension
7. Flatland
8. Shadows
9. Father’s Spirit
10. Caesar
11. Resilience
12. Echoes Through the Fourth Dimension


Banda:


Dejair Benjamim - Vocais, corais
Thamise Ducci - Guitarras
Rafael Moraes - Guitarras
Sandro Souza - Baixo
Pablo Rubino - Bateria, corais


Convidados:

Tim “Ripper” Owens - Vocais em “Caesar”
Iuri Sanson - Vocais em “Valley of Greed”
Renan Fontes - Vocais em “Echoes Through the Fourth Dimension”
Clarice Pawlow - Vocais em “Echoes Through the Fourth Dimension”
Dan Loureiro - Vocais adicionais em “The Flame”, corais
Luana D’Almeida - Vocais adicionais em “Caesar”, corais
Marcos Franco - Corais
Pedro Teles - Corais
Tnoy Souza - Teclados em “Echoes Through the Fourth Dimension”
Will Moreira - Teclados em “Caesar” e “Shadows”
Jack Ferreira - Teclados em “Father’s Spirit”


Ficha Técnica:

Tchandala, Marcos Franco, Dan Lourenço - Produção
Sérgio Basset,  Marcos Franco, Dan Loureiro - Mixagem, masterização
Marlon Delano - Arte gráfica


Contatos:

Bandcamp:
Assessoria: http://www.metalmedia.com.br/tchandala/ (Metal Media)



Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


Fazer Metal no Brasil, em qualquer uma de suas muitas vertentes, é sempre uma prova de amor, como um casamento: existirão ótimos momentos, outros nem tanto, e mesmo as crises são constantes. É preciso ter resistência, paciência e querer muito fazer com que tudo dê certo. E resiliência (que significa a “capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças”) é uma das características do TCHANDALA, grupo de Aracaju (Sergipe), um veterano com 21 anos de muita labuta no underground. E não é mero acaso que o título do terceiro disco do grupo é “Resilience”.

A primeira coisa que salta os olhos é que o grupo deu uma leve modernizada em sua abordagem do Heavy Metal tradicional. Isso significa que o som do grupo continua pesado e melodioso, com aquele mesmo jeitão polido, mas com uma estética mais jovem e vigorosa. Existem momentos em que bumbos duplos aceleram, mas em geral, os ritmos são comportados. Existem também partes em que vários vocais participam ajudando as linhas principais. E sem mencionar as belas linhas melódicas das guitarras (que capricharam nos riffs e solos).

Ou seja, o quinteto continua com sua identidade musical característica, mas mostrando que não vai cair no comodismo.

A produção de “Resilience” é bem caprichada, permitindo que a banda soe clara e de forma que o ouvinte compreenda o trabalho deles sem esforços. Mas ao mesmo tempo, aquela dose de peso e agressividade necessária está presente, bem como a energia flui das músicas de forma espontânea.

No tocante ao lado gráfico, a arte da capa é muito bela, e além disso, houve um capricho muito grande na diagramação, de forma que as imagens do encarte estivessem alinhavadas com o conteúdo de cada uma das letras.

Musicalmente, o TCHANDALA vem mais pesado que antes. Os arranjos ficaram mais trabalhados, mas sem que o lado melodioso ficasse comprometido. Além disso, a banda sempre teve um lado mais acessível que continua presente, mesmo embaixo de tanto peso. E os convidados, listados no início dessa resenha, dão um toque a mais de classe ao disco.

Nas 12 faixas de “Resilience”, o grupo se mostra em uma fase muito criativa, se destacando na sedução melodiosa de “The Flame” (uma canção não muito veloz, recheada de boas guitarras, um refrão grudento e teclados providenciais), a pesada e demolidora de pescoços “Labyrinth” (a base rítmica está ótimas, com boas mudanças rítmicas e técnica muito boa), a sinuosa e agressiva “Valley of Greed” e seu dinamismo (ajudado pela participação dos vocais de Iuri, ex-HIBRIA), o tema incidental “Lamento do Velho Chico” que introduz a causticante “Tears of River” e sua energia crua, e nas letras se percebe um manifesto ecológico (Velho Chico um apelido dado ao Rio São Francisco, que faz fronteira entre Alagoas e Sergipe, e que anda tendo problemas por causa do destrato humano com a natureza), e no final, um pouco de música regional do Nordeste do Brasil está inserido; a belíssima e envolvente “Echoes Through the Fourth Dimension” e seus lindos vocais (fora Dejair, ainda estão presentes Renan Fontes e Clarice Pawlow, que formam a dupla WRITE ME A LETTER, dando uma canja bonita), o peso cavalar e elaborado de “Flatland” e “Shadows”, a pancadaria explosiva que se ouve em “Caesar” (onde Tim “Ripper” Owens dá uma canja e participa nos vocais) e em “Resilience”, ambas com ótimos vocais e guitarras faiscando. E fechando, uma linda versão acústica para “Echoes Through the Fourth Dimension”, que ficou absurdamente linda, mostrando a versatilidade do grupo.

No mais, o TCHANDALA se mostra vivo e disposto para encarar novos desafios. E “Resilience” certamente os levará a outro patamar.

Nota: 88%