segunda-feira, 9 de outubro de 2017

MORTHUR - Between the Existence and The End (Álbum)


2017
Nacional

Nota: 8,5/10,0

Tracklist:

1. Intro
2. Immortals
3. From Life To Death
4. Mortal Desire
5. Warlock of the Underworld
6. Demonized
7. Extremely Against the World
8. Living Blasphemia
9. Alien Tomb


Banda:


Jeferson Casagrande - Guitarras, vocais
Marco Antonio Zanco - Baixo
André Cândido - Bateria


Contatos:

Site Oficial: http://morthur.com/
Twitter:
Youtube:
Instagram:
Bandcamp:
Assessoria: http://sanguefrioproducoes.com/artistas/MORTHUR/1 (Sangue Frio Produções)


Por Marcos “Big Daddy” Garcia


Em termos de Death Metal, já não é mais segredo que o Brasil é um autêntico criadouro do gênero. Mas poucos parecem perceber que o útero chamado cenário brasileiro é capaz de gerar bandas de Death Metal que não se encaixam muito em certos padrões. Ouvidos mais treinados percebem que algumas bandas parecem se negar a serem rotuladas, como é o caso do trio MORTHUR, de Erechim (RS), que chega detonando os ouvidos alheios com “Between the Existence and The End”, seu primeiro disco.

Em alguns pontos, podemos afirmar que o trio tem um enfoque mais cru e agressivo, como as bandas do início dos anos 90 (especialmente a escola inglesa, onde BENEDICTION e BOLT THROWER reinavam supremos) por sua musicalidade, mas em outros momentos, eles se aproximam bastante do jeito mais bruto e explosivo de se tocar o estilo, remetendo à escola americana (alguns toques de DEICIDE e MORBID ANGEL são sensíveis aqui e ali). Além disso, o “approach” usado pelo grupo de sua música não é ortodoxo ou tradicionalista, e isso agrega muito valor. Ou seja, o MORTHUR une o velho ao novo sem pudores, e se sai muito bem nisso.

Aliás, bem até demais!

A produção de “Between the Existence and The End” é do próprio trio em parceira com a Phobos Dark Arts, tendo a mixagem e masterização feitas pelas mãos de Jeferson Casagrande (guitarrista/vocalista do trio), e a sonoridade é clara e bem pesada, mas com um impacto muito intenso. E é justamente essa sonoridade limpa que os diferencia ainda mais do que já existe.

Em termos de capa, o grupo preferiu algo mais simples e direto, um projeto gráfico todo baseado em tons de preto, branco e cinza. Mas ele encaixa no contexto musical do grupo, e nos permite manter a atenção apenas na música, que é o mais importante.

Energia fluindo dos falantes de uma forma espontânea, agressividade com um alinhavo de qualidade, podemos aferir que o MORTHUR é uma banda inteligente. Como dito, eles usam um “insight” longe de ser puritano, e percebe-se uma preocupação estética enorme com os arranjos. Mas não se preocupem, pois os vocais urrados em timbres guturais diferentes, os riffs raivosos e solos bem pensados, e a coesão e peso de baixo e bateria criam um trabalho musical de primeira.

Em oito pancadas diretas no fígado, o grupo se mostra muito bem. Mas destacam-se a força de baixo e bateria nas mudanças de ritmo de “Immortals” e seu jeito Old School com seus bumbos duplos velozes; a velocidade extrema e rispidez de “From Life to Death” adornadas com riffs raivosos, aquela levada mais cadenciada e azeda que nos agarra pelos ouvidos e transpira em algumas partes de “Mortal Desire” (onde existem partes bem rápidas e violentas também), e esses elementos são ouvidos mais uma vez na bordoada nos dentes chamada “Warlock of the Underworld” (nesta aqui, os vocais estão ótimos), o abuso de velocidade em algumas partes e brutalidade cadenciada em outras nos arranjos extremos de “Extremely Against the World”, e o peso azedo e introspectivo de “Alien Tomb” e suas passagens mais sombrias.

Ou seja, o MORTHUR lutou por anos no underground por sua chance, ela chegou, e eles desceram o malho em “Between the Existence and The End”. Ouçam sem restrições, mas preparem os ouvidos e pescoços!

IMPIEDOSO - Reign in Darkness (Álbum)


2017
Selo: Violent Records, Sangue Frio Records, Brutal Wear
Nacional

Nota: 8,8/10,0

Tracklist:

1. The Sleep of Satan
2. Pelas Desgraças de Deus
3. Domination
4. Eu Vejo o Fim
5. Liberty to Satan
6. Impiedoso
7. Fire
8. Master of Darkness
9. Demônio da Sedução
10. Under the Moon’s Domain


Banda:


Azoth - Vocais
Mortuum - Guitarras, teclados, backing vocals
Jagar - Guitarras
Nahash - Baixo
Aldebaran - Bateria


Contatos:

Twitter:
Instagram:
Assessoria: http://sanguefrioproducoes.com/artistas/IMPIEDOSO/47 (Sangue Frio Produções)


Por Marcos “Big Daddy” Garcia


Poucos são os afortunados que ainda se lembram dos anos dourados da virada da década de 90 para os anos 2000, quando o Black Metal no Brasil florescia de forma exuberante. Era a época em que a essência envolvente do estilo se aliou à juventude de muitos e fez com que o Brasil se tornasse um verdadeiro criadouro de nomes de primeira, como MYSTERIIS, BLACK COMMUNION, EVIL WAR, OCULTAN, GREAT VAST FOREST e tantos outros. Mas um nome que na época ficou oculto foi o do quinteto IMPIEDOSO, de Jaraguá do Sul (SC). Mas se o tempo não lhes fez justiça naqueles tempos, hoje temos acesso ao primeiro álbum do grupo, “Reign of Darkness”.

Ao ouvir o álbum, nossa consciência é levada diretamente para aquela época, uma vez que o trabalho musical do quinteto é bem raiz, ou seja, busca influências no Black Metal da SWOBM (Second Wave of Black Metal), especialmente da cena grega do estilo, com alguma coisa do que se fazia na Noruega, mas com uma aura forte que somente as bandas brasileiras têm. E apesar do trabalho do grupo não ser inovador (o que também não é uma exigência), sangra em energia e vitalidade, além de ser um disco honesto. Sim, percebe-se que a música deles é, antes de tudo, honesta com os fãs e com eles mesmos. Mas se preparem para algumas partes nada ortodoxas, como os solos mais melodiosos em certos momentos de “Liberty to Satan”.

David Lago fez a produção, engenharia sonora e mixagem de “Reign in Darkness”, enquanto Hadelfar fez a masterização. Embora a sonoridade esteja bem suja e crua, distantes do que se faz hoje em dia, é preciso ter em mente que esta crueza é essencial para o que a banda tem em mente para sua sonoridade. Além do mais, falamos de Black Metal anos 90, logo, essa sujeira é essencial e não atrapalha a compreensão do ouvinte.

A arte da capa é de Eliseu Souza, deixando claro que lidamos como uma banda profana e disposta a expor-se ao crivo de todos. E David Lago também trabalhou na arte visual, e vemos uma apresentação simples e bem sombria. Casando perfeitamente com a musicalidade do quinteto.

Quando “Reign in Darkness” começa a tocar, fica bem claro que a banda não se esforça para ser “a mais veloz”, “a mais satânica” ou “a mais extrema”. Não, o que o IMPIEDOSO quer de sua música é algo macabro e sombrio, muitas vezes frio e cheio de uma ambientação sepulcral. E justamente por tentar não ser “o mais alguma coisa” que o disco é tão bom, com músicas arranjadas de forma espontânea, sem exageros técnicos, mas bem diversificado.

“The Sleep of Satan” é uma introdução que abre o disco, cheia de passagens acústicas e vocais sussurrados, antes de surgirem cantos sombrios e passagens elétricas e agressiva que introduzem “Pelas Desgraças de Deus” tem um andamento rápido no início, boas mudanças de ritmo e um trabalho ótimo de vocais (que soam bem diferentes do rasgado tradicional, um timbre mais agudo à lá Varg Vikernes), bem como a dualidade vocal entre timbres graves e agudos rasgados de “Domination” fascinam o ouvinte com essa levada mais lenta e azeda. As melodias soturnas das guitarras em “Eu Vejo o Fim” e sua aura totalmente “SWOBM” são envolventes, assim como a longa e variada “Liberty to Satan” e suas mudanças de tempo (que vão do rápido ao cadenciado sem pudores, mostrando a força de baixo e bateria, e isso sem mencionar os excelentes solos de guitarras). “Impiedoso” é um autêntico soco na cara de agressividade e velocidade, com boas guitarras, enquanto “Fire” vem cheia de variações harmônicas interessantes e mais uma vez, ótimos vocais. Embora seguindo o mesmo jeitão tradicional da anterior, “Master of Darkness” é mais bem trabalhada em termos de arranjos, além de baixo e bateria estarem muito bem. Um pouco mais variada em termos rítmicos é “Demônio da Sedução”, embora com uma técnica instrumental simples. E os quase 12 minutos de “Under the Moon’s Domain” também mostram que o grupo não está disposto a fazer uma música dessa duração sem mudanças de ritmo e alguns arranjos fascinantes das guitarras.

O IMPIEDOSO é uma ótima banda, e apesar do atraso (o grupo possui quase 20 anos de muitas lutas no underground), “Reign in Darkness” é um disco excelente!

NECROMANCER - Forbidden Art (Álbum)


2014
Nacional

Nota 9,0/10,0

Tracklist:

1. Necromantia (Intro)
2. Necromancer
3. Deadly Symbiosis
4. Dark Church
5. Havocs and Destruction
6. Middle Ages
7. Plundered Society
8. The Rival
9. Desert Moonlight


Banda:


Marcelo Coutinho - Vocais
Luiz Fernando - Guitarras
Alex Kafer - Guitarras
Gustavo Fernandes - Baixo
Vinícius Cavalcanti - Bateria


Contatos:

Site Oficial:
Instagram:
Bandcamp:
Assessoria: http://sanguefrioproducoes.com/artistas/NECROMANCER/53 (Sangue Frio Produções)


Por Marcos Big Daddy Garcia


O passado do Metal é sempre visto como algo muito romantizado, e às vezes, fora da realidade.

Sim, é incrível ver e perceber certa idolatria pelos anos 80, muitas vezes por pessoas que não estavam lá, que nem ao menos eram nascidas. Ou mesmo eram apenas crianças de colo, que não viram o que era a coisa em si. Mas esquecem-se muitas vezes de dizer aos mais novos no gênero sobre as imensas dificuldades sócio/econômicas da época, o que acabava limitando em muito o número de bandas a lançarem discos por aqui, já que os selos sofriam com as mesmas problemáticas nascidas da economia decadente de nosso país.

Mas ao mesmo tempo, é ótimo quando um grupo daqueles tempos retorna para cumprir uma missão em aberto, algo que deveria ter sido feito, mas que problemas e mais problemas evitaram. E podemos enquadrar o quinteto carioca NECROMANCER nessa turma. Sim, eles são veteranos da cena (ainda lembro-me de um de seus shows, quando abriram para MX e TAURUS no antigo Caverna II, em Botafogo), e que agora, mais de 30 anos depois de sua formação (são de 1985), o grupo lança seu primeiro CD, “Forbidden Art”. E agradecimentos à Heavy Metal Rock por comprar esta briga e colocar o CD nas lojas.

Antes de tudo, o estilo da banda é aquela mistura bem crua e pesada de Death Metal com Thrash, o que ocorria muito naquele triênio 85-86-87 no mundo inteiro, já que muitas bandas do Death Metal andavam transitando para o Thrash sem problemas. O incrível é perceber que a fúria musical das canções antigas (das 8 faixas do CD, 5 delas são de suas Demo Tapes “Dark Church” de 1987, “Science of Fear” de 1983 e “Victims of Deranged Maneuverings” de 1996. As outras três são novas, ou então, nunca gravadas) não foi perdida, e a crueza deles não tem o mínimo toque de mofo. Não, muito pelo contrário, o trabalho do NECROMANCER é tão atual e até mais honesto que muitas bandas que reviram discos antigos e apenas acumulam clichês tentando refazer o que já foi feito. E os caras aqui são daqueles tempos, logo, se percebe o DNA do grupo. Os vocais continuam tão furiosos como no início, mudando bem pouco e ainda claramente influenciados por Tom Warrior; as guitarras da banda lembram bastante a escola DESTRUCTION/SODOM, com riffs azedos e pesados, e solos crus (mas bem tocados), baixo e bateria com peso e técnica nas medidas certas. Assim, percebe-se que o grupo não exagera em aspectos técnicos ou de agressividade, mas sabe equilibrá-los muito bem, criando algo deles.

A qualidade sonora é bem crua, respeitando o passado do grupo, mas sem deixar de lhes dar aquele toque de clareza e peso tão necessários. Os timbres foram bem escolhidos, os instrumentos estão nos lugares certos. Nada foi mudado em relação aos anos 80 e 90, apenas atualizado pela qualidade dos equipamentos de hoje.  A arte de Marcelo Vasco é bela e bem pensada, uma capa enigmática e com o layout do encarte repleto de fotos antigas da banda.

Respeitando o passado do grupo, mas olhando o futuro, é preciso deixar claro que o trio que gravou o CD, todos membros das formações seminais do NECROMANCER, soube escolher bem o material que entrou no disco. As músicas mostram o feeling certo, pois as composições são possuem aleatoriedade, mas são bem construídas em sua simplicidade. Arranjos bem postados, boa dinâmica de andamentos, tudo muito bem feito.

É incrível sentir o sopro de vida que “Necromancer” (forte e poderosa, com velocidade não exagerada e excelentes vocais), “Deadly Symbiosis” (mais focada no peso e andamento na maior parte do tempo não tão veloz, azeda e mostrando o talento das guitarras do grupo, com riffs memoráveis), a emblemática “Dark Church” (outra com velocidade moderada, mas que mostra um trabalho de baixo e bateria muito bom, já que existem mudanças dinâmicas nos arranjos), da mais rápida “Plundered Society” (novamente um show por parte dos vocais), e “Desert Moonlight” (onde a qualidade de gravação fica um pouco mais tosca e crua, sem afetar o produto final. Basta ver a força das guitarras, especialmente nos solos, e nos urros), todas músicas das Demo Tapes, ganharam, bem como “Havocs and Destruction” (que começa com uma intro de guitarras bem lenta, preparando o ouvinte para uma faixa abrasiva e pesada de doer os dentes, com riffs crus insanos), “Middle Ages” (que tem partes cadenciadas e pesadas à lá CELTIC FROST com uma dinâmica mais germânica, ao passo que existem momentos bem empolgantes, e destaque mais uma vez para o ótimo trabalho das guitarras e bateria), e a brutal “The Rival” mostram uma banda com raízes no passado, mas com os olhos no futuro e concentração no presente.

E tudo isso torna “Forbidden Art” um disco obrigatório para todo bom fã de Metal extremo e para os arqueólogos do Metal, para entenderem, de uma vez, que fazer um som que referencia os anos 80 é para quem estava lá. Assim, o produto final nunca soa clichê ou vazio de alma...

Parabéns ao NECROMANCER, sejam bem vindos de volta, e esperamos shows de vocês em breve!

Em tempo: Gustavo Fernandes (baixo) e Edu Lopez (guitarra) não chegaram a gravar contribuições em “Forbidden Art”Edu também deixou a banda para se dedicar ao VORGOK, com Alex indo para as guitarras e Vinícius Cavalcanti assumindo a bateria. E o futuro os espera de braços abertos no próximo trabalho do grupo