2017
Nacional
Nota:
10,0/10,0
Tracklist:
1.
Exquisite Torments Await...
2.
Heartbreak and Seance
3. Achingly
Beautiful
4. Wester
Vespertine
5. The
Seductiveness of Decay
6. Vengeful
Spirit
7. You Will
Know the Lion by His Claw
8. Death
and the Maiden
9. The
Night at Catafalque Manor
10. Alisson
Hell
Banda:
Dani Filth
- Vocais
Rich Shaw -
Guitarras
Ashok - Guitarras
Lindsay Schoolcraft - Vocais femininos
Daniel Firth - Baixo
Marthus - Bateria, teclados, orquestrações
Convidados:
Liv Kristine - Vocais em "Vengeful Spirit"
Linda Nepivodova - Corais
Lucie Korinkova - Corais
Petr “Pete” Janovský - Corais
Vit Starka - Corais
Milos Makovsky - Corais
Martin Franze - Corais
Dana Toncrova - Corais
Ivan Nepivoda - Corais
Jakub Herzan - Corais
Contatos:
Site Oficial: http://www.cradleoffilth.com/
Facebook: http://www.facebook.com/cradleoffilth
Twitter: http://twitter.com/CradleofFilth
Instagram: http://instagram.com/cradleoffilth_official
Bandcamp:
Assessoria:
E-mail:
Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia
Os anos vão se passando e algumas bandas vão evoluindo, mostrando
trabalhos cada vez melhores (outras nem tanto). Mas sempre é interessante
observar como alguns nomes fortes vão se transformando e nos oferecendo discos
que realmente são capazes de nos seduzir. E é um prazer enorme ouvir trabalhos de um dos maiores nomes
do Metal extremo atual, o sexteto inglês CRADLE
OF FILTH. Depois de dois anos após o ótimo “Hammer of the Witches”, eis que eles voltam com o excelente “Cryptoriana: The Seductiveness of Decay”,
lançado no Brasil pela Shinigami Records e a Nuclear Blast Brasil.
A verdade é que o sexteto ostenta uma identidade musical
única, e esta causou as famosas oscilações de qualidade em termos de álbuns. Mas
como este é o segundo da sequência com a atual formação, vemos que a banda mostra
um trabalho ainda mais conciso que em “Hammer
of the Witches”, onde se percebe o uso de toda uma expressividade musical
diferenciada, presença de cantos gregorianos adaptados ao estilo da banda, riffs
cortantes e solos melodiosos, base rítmica bem trabalhada e com peso, belas
passagens de teclados, e os vocais continuam com aqueles timbres agudos peculiares entremeados por urros guturais e narrativas decadentes. Na
realidade, o sexteto recorre aos elementos de seus últimos discos, mas buscando
a força musical de seu passado, de discos como a trinca de ouro “Dusk and Her Embrace”, “Cruelty and the
Beast” e “Midian” (onde o estilo
dele ganhou mais agressividade), mas usando de muitas partes orquestrais e
operísticas na ambientação densa, elegante e soturna do disco.
Com “Cryptoriana: The
Seductiveness of Decay”, o CRADLE OF
FILTH nos dá mais uma obra-prima do Metal extremo, já que o Black Metal é
pequeno para definir o trabalho do grupo em termos sonoros.
Assim como em “Hammer
of the Witches”, a produção de “Cryptoriana:
The Seductiveness of Decay” é de
Scott Atkins (que ainda fez a gravação, mixagem e masterização do álbum),
resultando em uma qualidade sonora limpa e bem feita, cuidando para aquela
crueza e sujeira tão essenciais à banda fossem inseridas. O CRADLE OF FILTH nunca buscou por
qualidades sonoras grandiosas ou limpas demais porque isso descaracterizaria
sua identidade sonora, e mais uma vez, acertaram em cheio na escolha,
especialmente porque os timbres dos instrumentos estão permitindo que as
melodias sombrias das canções fluam sem problemas. Além disso, o baterista Marthus ainda ajudou na questão de
escrever as partes dos corais e sopranos, partes que foram gravadas tendo Roman Jež e Igor Mores na engenharia sonora.
Se na parte sonora a banda repetiu o produtor, na gráfica
ocorre o mesmo. Mais uma vez, o artista Arthur
Berzinsh criou uma arte sinistra e chamativa, uma versão sombria da pintura “O Nascimento de Vênus”, de Sandro
Botticelli, pintor italiano do Renascimento. Ela foi adaptada ao contexto
lírico sombrio do disco, e por isso, ficou excelente.
Uma vez mais, o sexteto inglês mergulhou profundamente em uma concepção estética/lírica densa,
enchendo as letras com elementos poéticos/góticos da era Vitoriana, com aquela
obsessão pela morte, o sobrenatural e o fúnebre que se percebe em livros como “O Castelo de Otranto” e “Os Mistérios de Udolfo", e o sufixo “A Sedução da Decadência” reforça a atração dos autores góticos pela morte e o
processo de autodestruição, bem como pela decadência post-mortem.
Um tema tão complexo exige que o grupo faça algo
musicalmente diferenciado, mas quando se trata de CRADLE OF FILTH, é algo natural desafiar padrões e estabelecer novas
regras. Por isso são tão odiados pelos mais conservadores, amados pelos por
aqueles que ouvem música sem pensar em padrões, e uma ameaça declarada ao
preconceito contra as artes degeneradas. Por isso, a banda é minimalista em
termos de arranjos, com uma ótima técnica instrumental, os vocais estão em tons
um pouco mais baixos que o de costuma (mas muito mais interpretativos que antes), e tudo
preparado de forma que o grupo funcione como uma máquina de guerra
perfeitamente ajustada.
A música do sexteto sempre foi baseada no contraste entre a agressividade
e a beleza soturna de suas melodias, logo, é um disco muito difícil de ficar
buscando por melhores momentos. A extrema e curta “Exquisite Torments Await...” é tem a estética de uma introdução à
lá “Ebony Dressed for Sunset” de “V Empire”, que precede a
extraordinária “Heartbreak and Séance”,
onde a banda esbanja mudanças de ritmo ótimas, sem contar de Rich e Ashok nas guitarras (tanto riffs como solos) é maravilhoso, e adicionem
a isso a riqueza de timbres de Dani
e aos corais climáticos (fora um refrão marcante). Logo, a agressividade domina
nossos ouvidos com a chegada de “Achingly
Beautiful”, com uma pegada que mixa Black Metal com algo de Thrash e Death Metal,
mais mudanças de tempo e um trabalho perfeito de Daniel e Marthus na
base, e sem mencionar os belos vocais femininos de Lindsay (especialmente nas partes mais lentas, melodiosas e
atmosféricas), mesmos elementos e características apresentados na violenta “Wester Vespertine”, onde a interpretação
de Dani é ótima. Teclados sinistros
e guitarras melodiosas iniciam “The
Seductiveness of Decay”, outra que vem cheia de energia bruta, mas cujas
melodias começam a surgir das guitarras, mas se preparem para ritmos que mudam
sem aviso. Em “Vengeful Spirit”, a maciez
aveludada da banda contrasta com muita agressividade mais seca, e lindas
melodias vão surgindo nos momentos em que a convidada especial, Liv Kristine, dá aquele toque de
beleza, especialmente nos duetos com Dani
e nas partes com vozes operísticas. Como se fosse um IRON MAIDEN do Metal extremo, o sexteto mostra guitarras de
primeira em “You Will Know the Lion by
His Claw”, que vem de uma citação de Johann
Bernoulli sobre uma carta anônima (enviada por Isaac Newton) resolvendo um problema proposto (qual a trajetória
que mais rápida entre dois pontos), e a solução é uma curva que chamamos de
Braquistócrona (mesmo com a carta anônima, Bernoulli
reconhecera que era Newton, por isso
disse que “reconhecia o leão pelas marcas de suas garras”); e a música é cheia
de floreios melódicos das guitarras (que solos!), fora uma estética baseada na
mudança de ritmos. E “Death and the
Maiden” fecha o disco de forma grandiosa, cheia de arranjos fúnebres de
teclados, tempos mais lentos soberbos onde o baixo e a bateria mostram sua
força, sem falar que o enfoque mais agressivo dos vocais é perfeito. Mas a
versão brasileira tem mais: duas canções extras, que são a melodiosa e intensa “The Night at Catafalque Manor”, cuja
estética relembra um pouco o que se ouve em “Dusk and Her Embrace” (especialmente pelo trabalho das guitarras e
insanidade da base rítmica); e uma versão destruidora para “Alisson Hell”, do ANNIHILATOR,
que ficou ótima, inclusive apresentando alguns teclados, e baixo e bateria
estão perfeitos (falar das guitarras é chover no molhado, e a interpretação dos
vocais é ótima, sem contar nos vocais femininos na parte que antecede os
solos), ou seja, mais um grande clássico do Metal ganha vida nova nas mãos da
banda.
Ame ou odeie, o CRADLE
OF FILTH criou mais um disco que vem forte para ser um dos melhores do ano.
E como “Cryptoriana: The Seductiveness of
Decay” é envolto em toda uma concepção artística degenerada (e mesmo repleta de erotismo), esperamos que ele
sirva para abrir os olhos dos macarthistas do Metal que andam apoiando a idéia
de censurar as artes...