Por
Marcos “Big Daddy”
Garcia
Um
dos nomes mais fortes dos últimos cinco anos em termos de Metal tradicional do
Brasil é,
sem sombra de dúvidas, o do quarteto paulista ATTRACTHA. Com apenas um EP e um
álbum, se percebe que a banda evolui constantemente, mas em uma taxa muito
grande.
Aproveitando
o momento em que a banda se encontra colhendo frutos do álbum “No Fear
to Face What’s Buried
Inside You”
(lançado em 2016), fomos bater um papinho com eles e saber um pouco da história
da banda, bem como de seus planos futuros.
BD:
Primeiramente, gostaria de agradecer pela entrevista. Vamos começar com uma
pergunta simples: como foi que o ATTRACTHA surgiu? E de onde vem o nome?
Humberto Zambrin: Marcos, É um prazer!!
O Metal Samsara sempre nos deu espaço e atenção! Agradecemos muito a você por
isso!! A banda começou mesmo em 2012, quando conseguimos juntar pessoas com os
mesmos ideais e objetivos musicais. Eu e o Ricardo Oliveira já tínhamos planos
e músicas feitas há algum tempo, desde 2007, quando nos conhecemos, mas só
formamos a banda em 2012 mesmo. O nome é uma derivação do nome Attracta, uma das possíveis grafias para
o nome de uma Santa irlandesa, contemporânea de Saint Patrick. O nome é uma
homenagem aos seres mais importantes que habitam esse planeta: as mulheres!
BD:
vocês já tinham lançado um EP em 2013, “Engraved”. Olhando em perspectiva, o
que mudou, evoluiu e melhorou entre ele e “No Fear to Face What’s Buried Inside
You”?
HZ: Tudo mudou!
(risos)… bom, dá pra começar explicando que a formação da banda que gravou o
“Engraved” não é a mesma que gravou o “No Fear…”. No novo trabalho temos a
presença do Cleber Krichinak nos vocais e do Guilherme Momesso no baixo. Já
dava pra sentir o que seria o álbum quando lançamos o single “Unmasked Files”
em 2015. Nossas influências se expandiram nesse período, começamos a usar
outras opções de afinação, enfim, tivemos tempo de amadurecer o conteúdo, como
banda, como proposta sonora, saca? Obviamente, as coisas básicas como
entrosamento da banda e a natural evolução musical ajudam muito, também.
Cleber Krichinak |
BD:
falando especificamente do álbum: qual a ideia está por trás do título? Óbvio
que ele não foi aleatório, logo, deve ter algo nele. E qual o conteúdo das
letras?
HZ: Ah, o título é auto-explicativo!
(risos)… o conceito lírico do álbum transita pelos cantos mais inexplorados da
mente humana. Algo como aquilo que não gostamos de expor, porém não só coisas
negativas… tudo! É isso que exploro nas letras de cada música, os pontos mais
íntimos dos conceitos e opiniões sobre temas diversos… é como se fosse uma boa
viagem a uma mente aberta. Coloco ali pontos de vista que muitos escondem ou
negam sobre vários assuntos, como doenças, religião, política, personalidade,
caráter, etc… tem um pouco de tudo ali.
BD: O
produtor escolhido para trabalhar com vocês foi Edu Falaschi. Como foi
trabalhar com ele? Até que ponto ele influenciou as músicas de “No Fear to Face
What’s Buried Inside You”? E por que não chamaram o sujeito para uma participação
especial (risos)? Aliás, um elogio: a sonoridade do disco é de primeira!
HZ: Trabalhar com o
Edu é a coisa mais suave do mundo! Obviamente que o trabalho de produtor e
banda não é um comercial de margarina o tempo todo, mas ele é um cara nota 10,
super coração bom e extremamente competente. Profissional de primeira! Quando
sentamos para a pré-produção do álbum, tínhamos metade das músicas compostas e,
obviamente, ali no meio, muita coisa que a gente queria melhorar. Ele mexeu
bastante na primeira música, como se fosse uma aula de produção e depois foi
nos orientando a trabalhar nas outras, permitindo que as músicas ficassem com a
nossa cara, e não a dele. Ele aconselhava, clientela, e em alguns momentos até
compôs umas coisas, mas sempre deixando a banda a frente de tudo. Dá pra ter
uma boa idéia assistindo nosso mini-documentário em 13 episódios, “Facing
What’s Buried Inside You” que está no nosso canal do YouTube! Nós convidamos ele pra participar
sim, mas ele não aceitou! Na verdade, é um lance muito profissional dele, não
participar dos álbuns que produz… Ali ele é produtor, não músico… Ele faz isso
com todas as bandas (risos). E quanto ao som, ficamos felizes em saber que você
gostou!!! Deu trabalho!! (risos)
Ricardo Oliveira |
BD:
Algumas bandas, como o ATTRACTHA, têm feito as mixagens e masterizações no
exterior. No caso de vocês, por que fizeram isso, e como se deu a escolha de
quem iria trabalhar nelas?
HZ: Bom, a
indicação veio do próprio Edu. Num dia de trabalho das prés, ele me mostrou
duas músicas do “E.V.O.” do Almah, já mixadas, que ainda não tinham sido lançadas
e eu pirei. Dai eu disse q eu amava a sonoridade do “Unfold” do Almah também, e
ele me disse que era o mesmo cara que tinha feito, o Damien Rainaud. Daí, já
abri o canal de comunicação com ele e fechamos a mix e a master para o “No
Fear…”. Os motivos de
termos escolhido ele são simples: primeiro a sonoridade. Ele havia feito o
álbum que eu tinha o som como inspiração, então já me parecia o caminho mais
curto, e outro ponto é que, para os profissionais dos EUA e da Europa, os
equipamentos tem custo muito mais acessível do que aqui no Brasil, então esses
caras tem acesso a tudo do bom, melhor e moderno a um preço muito mais
competitivo do que temos aqui no Brasil. Importante ressaltar que a qualidade
dos profissionais daqui e de lá é equivalente, não acho que estamos “pra-trás”
em conhecimento, mas em recursos, certamente. Então fomos nessa direção.
BD:
Outro ponto interessante foi o formato da capa, um digipack que abre em vários.
Existe uma motivação para terem escolhido fazer a capa dessa forma? E como que
escolheram a arte do CD? Ah, sim: já que existe certo no ar pelos discos de
vinil, existe alguma proposta para o lançamento de “No Fear to Face What’s
Buried Inside You” nesse formato?
HZ: Ah, a motivação
foi muito simples: como fazer uma pessoa entre 16 e 30 anos de idade comprar um
CD na segunda década do século XXI? Simples: fazendo essa pessoa comprar “mais
do que um CD”, um item de merchandising! A ideia foi essa, oferecer um “algo
mais” para o fã e um atrativo para o não-fã ou para o desconhecedor. CD’s em
caixinhas de acrílico não oferecem nada ao fã, na minha visão. Nesse ponto,
procurei formatos diferentes, inspirado na experiência que tínhamos de comprar
e manipular vinis lá nos anos 70 e 80… dai cheguei nesse formato. O problema é
que nenhuma empresa no Brasil tinha os moldes para se fazer um produto assim,
então tive que desenvolver exatamente tudo! desde o projeto e as dimensões do
digipack, até o protótipo para mandar pra fábrica! Tem um vídeo oculto no nosso
canal do YouTube com um protótipo miniatura desse digipack e eu explicando pros
caras como fazer e como dobrar! Um dia vamos liberar isso! Já a arte, nasceu da inspiração no
conceito e nas letras… ela é muito mais complexa do que se percebe, cheia de
mensagens subliminares e de enigmas que podem ser desvendados pela galera!
Basta sentar lá com a arte e ficar fuçando! O vinil desse álbum é um sonho!! Sendo sincero, tenho já a versão da
arte e etc que podem ser usadas num vinil, mas quando fiz a cotação disso,
desisti. Ainda é extremamente caro.
Guilherme Momesso |
BD: O
lançamento de “No Fear to Face What’s Buried Inside You” se deu no Manifesto
Bar, na cidade de vocês. E pelo que soubemos, a recepção foi ótima. Qual a
impressão de você sobre o show e público, justamente em um momento em que vemos
casas fechando as portas por ausência de público? E falem um pouco do show
recente, em que abriram para o Edu Falaschi.
HZ: Olha, esse
lance de casas, público e shows é muito complicado mesmo. Dá uma tese de
Doutorado (risos). No caso do lançamento do álbum, nós trabalhamos muito na
divulgação do show, previamente, principalmente nas redes sociais. Isso é
complicado e dá muito trabalho, porque cada vez que você faz um evento, tem que
mudar a estratégia de divulgação, de como abordar o público e etc, então
tivemos que fazer um bom trabalho de corpo a corpo, gerar expectativa e tudo
mais. E deu certo! Foi um sucesso, do nosso ponto de vista. Já o caso da abertura em SP da
Rebirth of Shadows tour foi um presente! O Edu me ligou e convidou a gente,
porque achava que seria uma excelente oportunidade para nos expor. No fim, acho
que todos nós ficamos surpresos! O show foi sold out, o que dá 1700 pessoas lá
no Carioca Clube. Devemos ter tocado para cerca de 1200 a 1300 pessoas…estava
lotado! Foi nosso auge. Seremos eternamente
gratos por essa oportunidade!
BD:
Em 2016, “No Fear to Face What’s Buried Inside You” recebeu várias indicações
como um dos melhores discos nacionais. Como vocês enxergam isso, como a
sensação de dever cumprido ou como uma motivação para fazer melhor no futuro?
HZ: Eu acredito que
sejam ambos… Como eu já disse, esse álbum nos deu muito trabalho e cada detalhe
foi feito com o maior carinho e dedicação. Nos superamos em diversos momentos.
Receber as indicações e os prêmios cai pra nós como a recompensa maior do nosso
esforço. Fico me perguntando quantas bandas tiveram seu primeiro álbum indicado
e premiado como melhor álbum do ano? Mas passado o primeiro minuto de glória
(risos) fica mesmo é a motivação! Se chegamos aqui com o primeiro álbum, temos
que nos inspirar nisso tudo e certamente nos prepararmos ainda mais para o
próximo! Se vamos conseguir? Vamos fazer nosso
melhor, sempre!
Humberto Zambrin |
BD:
Hoje em dia, as mídias sociais são uma ferramenta e tanto para a divulgação de
trabalhos, mas ao mesmo tempo, parece existir certo desdém do público para
bandas mais jovens. Qual a visão de vocês sobre isso? E como quebrar essa
resistência?
HZ: Uau… Outra tese
de Doutorado! (risos). Resumidamente, acho que temos 2 situações que devem ser
analisadas. A primeira é o poder da voz de qualquer indivíduo. A internet e as
redes sociais são o maior exemplo da democratização dos julgamentos e é isso
que a gente vê. Qualquer um pode falar o que for e tem o mesmo peso que um
expert. Nesse sentido, não há só o desdém com bandas novas, mas com as
“veteranas" também. O próprio Iron Maiden, uma das maiores bandas de todos
os tempos, é constantemente julgado e desdenhado nas redes por muitas pessoas.
Ainda lotam estádios porque, assim como outros gigantes, construíram suas
carreiras numa época onde havia uma curadoria, haviam gravadoras e executivos
que decidiam quem aparecia e quem não… Já parou pra imaginar quantas bandas
excelentes acabaram e ninguém conheceu, porque a EMI estava investindo TUDO, no
Iron? A quebra da
resistência, ou como eu gosto de dizer, a exposição para a aceitação, no
presente e no futuro virão exatamente da mesma forma que veio nos anos 70 e 80:
Investimento! As bandas e artistas que se sobressairão, nesse cenário, serão
aquelas que tiverem maior capacidade de captação de recursos e de transformação
disso em base de fãs. Seja investindo em redes e mídias sociais, seja
investindo em shows… No meu ponto de vista, até um artista excepcionalmente
talentoso, mesmo nos dias de hoje, precisará sim de investimentos para se
sobressair. Óbvio que hoje isso não é só dinheiro, pode ser patrocínio, pode
ser exposição conjunta, mas no final, é captação de fãs.
BD:
Essa é para ti, Humberto. Você tem uma série de vídeos com dicas para
bateristas, certo? Como anda a receptividade e o feedback deles? E como tem
sido a coluna no Música Fácil? E o blog que criou sobre o music business e
outros para bateristas iniciantes? E verdade seja dita: são iniciativas que
merecem aplausos em um mundo em que tantos escondem o jogo…
HZ: Ah, obrigado!
Pilotar uma carreira “solo” como baterista, no Metal, no Brasil, é quase
uma missão Hercúlea… mas eu sigo tentando ajudar as pessoas como posso. O
Música Fácil abriu as portas pra mim, me cedendo a coluna onde procuro abordar
um pouco de tudo, de técnicos até cotidiano. Por conta disso, nasceu a ideia do blog, que está mais ligado a dividir
experiências, tentar trazer os jovens para um patamar mais próximo de quem já
viveu diversas experiências profissionais dentro e fora da música. Esse blog
vai migrar para meu canal do YouTube. Infelizmente o interesse pela leitura é
menor que o pelo vídeo… mas de qualquer forma, tenho alguns tópicos que ainda
vou abordar no blog, porque, no final do dia, adoro escrever!
BD: E
como andam as coisas no ATTRACTHA ultimamente? Quais os planos da banda em
termos de música, discos, shows para 2018?
HZ: Queremos ter
uma agenda cheia em 2018, mas é difícil! Estamos negociando participação nos
melhores e maiores festivais de Metal do país, mas é difícil. O Metal movimenta
muito pouco dinheiro e o custo logístico de um show num nível bom, é
extremamente alto. Estamos fazendo nosso melhor. Em 2017 fizemos SP, MG e RJ.
Agora em 2018 já temos confirmado SC e estamos negociando outras oportunidades…
devagar vamos indo. Quero muito colocar a pré-produção de um novo álbum ainda em 2018, mas
tudo depende de agendas… vamos ver! Planos existem!!
BD:
Bem, é isso. Mais uma vez agradeço pela paciência, e pedimos que deixem sua
mensagem aos fãs.
HZ: Nós que
agradecemos, e muito, o seu espaço e atenção! Aos fãs de Metal em geral que
acompanham o Metal Samsara, nosso muito obrigado pelo prestígio, pela força e
pelos elogios! Fazer Metal no Brasil não é nada além de paixão, sejamos banda,
assessorias, sites, blogs ou qualquer outro meio. Portanto, prestigiem o
trabalho de todos que procuram levar novas músicas até vocês!! Um forte abraço
a todos e nos vemos pela estrada!!
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