Em 11/01/2018, o mundo do Metal e do Rock perdeu um de seus
guitarristas mais importantes: aos 67 anos de idade, Edward Allan Clarke, mais conhecido como “Fast” Eddie Clarke, ex-guitarrista do MOTORHEAD entre 1976 e 1982, faleceu de pneumonia.
Fã de Eric Clapton
e com um jeito mais voltado ao Rock clássico e ao Blues, a história de vida de Eddie veio a mudar quando se juntou a LemmyKilminster e Philthy Animal
Taylor em1976, começando a
segunda formação do MOTÖRHEAD. E justamente esta formação veio a transformar o trio em um dos 3 pilares de sustentação do Metal, junto ao BLACK SABBATH e ao JUDAS PRIEST.
Lemmy, Eddie e Phill na clássica sessão de fotos da capa de “Ace of Spades”
Em seis anos com o grupo, Eddie gravou alguns dos maiores
clássicos do Metal, que são “Motörhead”,
“Overkill”, “Bomber”, “Ace of Spades”, o ao vivo “No Sleep ‘til Hammersmith”
e “Iron Fist”. Seus riffs rápidos e
sujos viriam a se tornar a base para os estilos extremos do Metal nos anos que
viriam, bem como seus solos melodiosos influenciaram a muitos. Aliás, Eddie será um dos popularizadores da Fender Stratocaster no Metal, já que seu uso não era comum ao gênero por seus timbres.
Após sair do MOTÖRHEAD
em 1982, Eddie fundou o FASTWAY junto com o baixista Pete Way (ex-UFO), fora outros trabalhos que vieram posteriormente. Ao mesmo
tempo, também produziu bandas como ASSASSIN,
o próprio MOTÖRHEAD em alguns de
seus Singles (e também o álbum “Iron
Fist”), TANK, PLASMATICS, entre
outros.
Lemmy, Phill e Eddie.
“Fast” Eddie Clarke era
o último membro da formação clássica do MOTÖRHEAD
que ainda estava vivo. E a esta altura, já se junto a Lemmy e Phill para tomar
umas, fumar uns cigarros e começar uma apresentação do outro lado.
NO CLASS FOREVER!
OM SHANTI, obrigado por todo seu legado, e Rock in Peace!
Ser um gigante com história no Metal pode ser, muitas vezes,
um imenso revés, já que quanto maior a banda em termos de popularidade, maior o nível de cobranças de público
e crítica, e maior o peso da responsabilidade. E o IRON MAIDEN, maior nome do Metal mundial e maior divulgador do
estilo, fez feio demais em “The Book of
Souls: Live Chapter”, seu décimo-segundo e mais recente disco ao vivo.
Após o lançamento de “The
Book of Souls”, mesmo os detratores do sextetotiveram que aceitar que a banda parecia viver um bom momento em termos de criatividade. Mas ao
lançar este ao vivo se percebe que a banda está, primeiramente, mal de gestão. Ou seja, quem gerencia e faz as escolhas em termos de produção de discos está totalmente perdido!
Não é preciso descrever o Heavy Metal tradicional que o
grupo faz. Como dito acima, por ser o maior nome do gênero, pormenorizar a música deles seria
mera burocracia para encher linguiças. O pior defeito do disco é o seu tracklist, ou seja, relação das músicas
que estão nele.
Óbvio que por ter sido gravado em shows da “The Book of Souls World Tour”, a
prevalência seria de canções do último álbum de estúdio (algo óbvio): seis canções dele, o
que ocupa quase que metade do álbum em si. Sim, “The
Book of Souls: Live Chapter” tem 15 canções, e como a produção/gestão
parece ter fechado os olhos, faltou equilíbrio na dualidade músicas novas x músicas antigas, algo importante quando estamos tratando de discos ao vivo. Em comparação, “Live After Death” tem 20 canções (em
sua versão com dois CDs), sendo quatro do disco divulgado naquela turnê (o clássico “Powerslave”),
o que daria 4/5 para ser preenchido com canções de discos anteriores. E piora
quando se percebe que a produção ignorou completamente músicas de “Seventh Son of
a Seventh Son”, “No Prayer for the Dying” (tá certo que este é o mais fraco
dos discos de estúdio do grupo, mas nenhuma canção dele?), absolutamente NADA
da fase de Blaze Bayley (embora os fãs mais
chorões não vejam isso como um problema), e nada de “Dance of Death”, “A Matter of Life and Death” ou “The Final Frontier”. É compreensível
que certas músicas deveriam realmente estar no disco, como “The Number of the Beast” e “Iron
Maiden”, mas como deixar canções como “Revelations”,
“Flight of Icarus”, “Two Minutes to Midnight”, “Caught Somewhere in Time”
ou “The Evil That Men Do”, só para
citar algumas, de fora, e insistir em outras mais que manjadas como “Fear of the Dark”? Basta não encarar a
Donzela de Ferro como uma religião (como muitos insistem em fazer no Brasil) e perceberão
o que digo.
A sonoridade do disco em si não é ruim, mas deixa a desejar em alguns pontos. A crueza e energia
que fluem são aquelas que conhecemos de shows, a bateria está com timbres excelentes, o baixo também, e os vocais ficaram bem audíveis, mas existem momentos em que as
bases de guitarras ficam em volumes baixos e com timbres muito ruins, o que denuncia um mixagem longe do ideal. Novamente: estamos falando do IRON MAIDEN, logo, a estrutura financeira para montar uma qualidade
sonora digna eles têm de sobra. Não se trata de fazer um disco com infinitos overdubs e
obliterar a sensação de estarmos ouvindo um show ao vivo, mas de ter uma produção mais caprichada.
Pelo menos, Kevin Shirley não está
mais cuidando da produção sonora, o que já é um ponto positivo, e se
forem fatos boatos que dizem que Steve
faz questão de controlar tudo em estúdio, melhor seria para a banda que ele se
dedicasse apenas a tocar e compor, como era nos tempos de Martin Birch.
O lado gráfico, indo na direção oposta, ficou ótimo. Além das belas ilustrações,
as fotos da turnê são bem feitas, com takes excelentes, fora as informações sobre a turnê em si estarem no encarte.
Ao vivo, o sexteto funciona muito bem, como é de praxe.
Steve e Nicko se entendem bem na base rítmica,
e a coesão que apresentam é algo absurdo, fruto de mais de 30 anos tocando
juntos. As guitarras estão muito bem também, mostrando que Adrian, Dave e Janick se
entendem bem (e parem de reclamar e jogarem a culpa de tudo nas costas de Janick, que se mostra um ótimo
guitarrista ao vivo, bem como é um excelente compositor, logo, cresçam de uma
vez, crianças! Esse choro já deu na paciência!). Já Bruce está bem, mas apresenta
os velhos problemas de sempre, como a falta de fôlego em alguns momentos, algo claro em “The Trooper”, “Iron Maiden” e “Wasted Years” e em canções rápidas ou
de tons muito altos (o que demonstra o quanto é importante um vocalista se
cuidar e ter aulas de canto, já que talento é inútil se não for exercitado),
mas ele pelo menos consegue fazer entre 50-70% do que ele faz em estúdio.
As versões ao vivo para as canções de “The Book of Souls” são muito boas (descontando os problemas da
sonorização). “If Eternity Should Fail”,
“Speed of Light” (essa está muito boa mesmo, com baixo e bateria dando um show), “Death or Glory”, “The Red and the Black”, “The
Great Unknown” e “The Book of Souls”
são bem legais, mas se enxerga um erro de gestão/produção ao perceber que a
banda colocou duas músicas enormes (as duas últimas) em um mesmo ao vivo. Desperdício de espaço.
Nas músicas antigas que preenchem o restante do disco,
mais uma vez: são aquelas velhas canções que mostram o quanto o IRON MAIDEN está contente em permanecer
na sua zona de conforto, que já foram repetidas tantas vezes que a paciência
acabou. O fanatismo de muitos aceita e defende, mas o bom senso denuncia como
um golpe. E, além disso, se percebe a diminuição nos ritmos de “Iron Maiden” e “Wasted Years” em relação às originais, um recurso usado bastante
por muitas bandas para aguentarem o tranco. Mas é muito bom poder ouvir canções como “Wrathchild”, “Children of the Damned” (um dos melhores momentos do disco, verdade seja dita, pena que os timbres das guitarras não está ajudando),
“Powerslave”, e “The Number of the
Beast” (mesmo com Bruce perdendo o fôlego vez por outra, o que espero de
coração não ser um reflexo tardio do tumor que ele teve na garganta há alguns anos) e “Wasted Years”.
Já sei, já sei: os mais fanáticos dos fãs da Donzela de
Ferro já estão de mimimi, revoltados e frustrados com minhas palavras nesta
resenha... Imaginem a minha frustração e revolta com esse disco. Justo eu que,
em 1983, fui introduzido nessa vida de Heavy Metal por eles... Eu canso de dizer que devo muito a Steve Harris, mas como crítico, preciso ser correto.
Sinceramente, prefiro ouvir o bom e velho “Live After Death” que perder mais
tempo do que já perdi com “The Book of
Souls: Live Chapter”.
O que me resta agora: torcer que o próximo disco da banda de
estúdio (que provavelmente deve ser o último, se algumas entrevistas com Steve após o lançamento de “The Book of Souls” estiverem corretas)
seja produzido por produtores jovens e ambiciosos como Andy Sneap, Jens Bogren ou Fredrik
Nordström, e que eles tenham total liberdade para fazerem o que fizeram com
ACCEPT, JUDAS PRIEST, SEPULTURA, AMON
AMARTH, DRAGONFORCE e outros: lhes dar nova vida.