Por Marcos “Big Daddy” Garcia
Sempre quando se fala no Metal da região Nordeste do Brasil,
a primeira ideia que nos vem à mente é justamente a fertilidade de lá em termos
de bandas. Muitos nomes que vêm de lá mostram trabalhos excelentes, e da cidade
de “Hellcife”, em Pernambuco, estado que já deu ao mundo bandas como HATE EMBRACE, STONEX, CANGAÇO, MALKUTH,
entre tantos outros, vem o quinteto ELIZABETHAN
WALPURGA.
Fundindo Metal tradicional, Black Metal com uma pitada de
Classic Rock, o grupo fez de “Walpurgisnacht”
uma aula de inovação dentro do Metal nacional.
E lá fomos nós aproveitar o bom momento para falar com a
banda, na figura de seu baixista Renato
Matos, e saber do passado, das novidades atuais e planos futuros do
quinteto.
BD: Saudações!
Antes de tudo, agradeço pela oportunidade, e queria começar a entrevista
pedindo que nos conte um pouco da história da banda. E principalmente, de onde
veio a ideia de usarem o nome ELIZABETHAN
WALPURGA?
Renato Matos: Saudações
para todos que acompanham o Metal
Samsara e obrigado a você, Marcão “Big
Daddy” Garcia, pela oportunidade e espaço para nossa banda.
A banda foi formada por mim, Breno e Erick Lira em
1994 com a proposta inicial de fazer um death metal melódico. Somos amigos de
infância e nos conhecemos em 1982.
Em 1994 eu já era baixista da banda Infected, que na época estava fazendo um Death Metal brutal na
linha do Morbid Angel. Quando fiz as
bases, do que depois veio a ser a música “Vampyre”,
tive certeza de que tinha de ser compositor e ao mesmo tempo de que o que eu
queria compor não se encaixava no Infected
e em nenhuma outra banda que eu já tinha ouvido naquela época, então mostrei
aos irmãos Lira as bases que tinha
feito. Eles gostaram muito do que eu mostrei, e assim começamos a banda. No
início, eu ia passar a noite e fins de semana na casa deles, foi onde tudo
começou, eles nessa época já tinham se mudado de nossa vizinhança e lá íamos
nós na base de um litro de Rum para 1.250 ml de Coca-Cola e duas caçambas de
gelo! Erick tomava apenas a primeira
dose conosco, eu ia até a metade da garrafa com Breno, acabava a coca e a outra metade amanhecia seca, rsrsrsrs. Amanhecíamos
com as músicas gravadas numa fita K7, mas nesse processo, mudamos as músicas
várias e várias vezes nessa época, apesar de que as duas últimas que compomos
foram feitas quase que diretamente sem tantas mudanças e complementações.
Chamamos Murilo Nóbrega e Rogério Mendes para compor conosco a
primeira formação. Eles eram membros da banda
Decomposed God e na época, eu estava muito próximo a todos do Decomposed God, ia aos ensaios, era um
verdadeiro grude, mas por inconsistências de horário, eles deixaram a banda
ainda bem no começo depois de alguns ensaios, nem tínhamos letras feitas e o
nome provisório da banda era Eccumenical
Damnation.
Convidamos Belchior
de Melo para tocar bateria, e ele trouxe Leonardo Mal’lak, que já tocava com ele na banda de Black Metal Darkness Emperor.
Leo trouxe a
ideia de escrever sobre vampirismo mesclando com o que ele lia na época, livros
de Anton LaVey e Aleister Crowley e
uma Bíblia do Vampirismo, não lembro o autor dessa última referência. Depois, ele
acompanhou o início da construção filosófica que Hellhammer criou e Mal’lak
sempre nos falava sobre o Movimento Luciferiano ser de uma magnitude tamanha
que encanta qualquer inquietude espiritual, e daí nasceu o interesse em outras
religiões e outras culturas. O som encaixou e começamos a ensaiar com mais
frequência, mas demoramos muito a montar um repertorio. Acho que o fato de
naquela época 3 membros da banda, inclusive eu, tocarem em 2 ou 3 outras bandas
ao mesmo tempo fez com que o processo fosse lento mesmo. A partir da gravação
da primeira Demo Tape intitulada “... The Darkness... The Wrapping Tranquillity …” em 1997 foi
as atividades na banda ficaram mais intensas, criamos mais músicas e realizamos
nosso primeiro show apenas em 1999 no festival Blizzard of Rock. Depois desse primeiro show, chamamos a atenção
local e fomos convidados por João
Marinho da Blackout Discos de Recife
para abrirmos o segundo show da história do Krisiun em Pernambuco em 2000. Ganhamos mais notoriedade com esse
show e ficamos conhecidos em várias cidades do nordeste, pois quem tava no show
repercutiu bastante ao voltarem pra suas cidades, principalmente pela qualidade
impressionante e técnica de Breno e Erick, que na época eram sem dúvida uma
espécie muito rara no Metal. A maioria dos músicos não sabia tocar tão bem, nem
estudavam música a sério, eu era um deles, mas tinham exceções, claro. Em 2001
tentamos abrir para algumas bandas, mas decidimos não tocar na hora dos shows,
pois a produção tinha nos prometido boas condições de show. Acabou que os
headlines não nos deixaram passar o som nem tocar na bateria antes deles
tocarem. Isso seria umas 2, 3 da manhã, ainda pra passar o som pra depois tocar
lá pras 4 da manhã! Não topamos. Se não tivermos condições de mostrarmos nosso
som com qualidade, preferimos não tocar. Tocar é uma consequência sob o aspecto
de nossa filosofia. Nosso terceiro e último show dessa fase foi em 2002.
Abrimos pro Monstrosity e foi nosso
melhor show dessa fase! Eu já estava planejando migrar pros EUA e quando isso
aconteceu no meio do ano, a banda acabou, pois nem Breno nem Erick quiseram
continuar a banda sem os 3 na banda.
Elizabethan Walpurga (Walpurga da era Elizabetana) é a
celebração da noite de Walpurga (Walpurgis, Walburga, Waelbyrga), a
Walpurgisnacht dos tempos medievais, o Sabá da renovação. É a noite da libertação,
a união das sombras com o fogo ritualístico pagão. As portas do submundo
estariam abertas nesta ocasião de festejos para atrair energias renovadoras,
purificadoras, estimulantes. A Walpurgisnacht medieval foi caracterizada como “a
noite das bruxas”!
BD: Houve um
hiato entre 2002 e 2015, quando voltaram à ativa. Renato, sabemos que foi por ter ido viver um tempo nos Estados
Unidos, mas na época foi o fim ou você tinha a ideia de um dia voltar e retomar
os trabalhos do ELIZABETHAN WALPURGA?
Renato: Na época,
todos pensaram que era o fim mesmo, mas eu sempre comentava que não achava que
iriamos acabar daquela forma. Com alguns amigos fora da banda, sem registrarmos
as 9 músicas que criamos naquela fase, sendo que a última música não chegamos a
tocar em estúdio e ainda não tem letra até hoje.
Desde que voltei dos EUA em 2007 que eu procurava uma chance
de voltarmos, mas o momento de cada um de nós não nos permitia nenhuma forma de
nos planejar.
Erick estava
morando no Rio de Janeiro, Leonardo
em Natal, e Breno tocando
profissionalmente com 1349 bandas diferentes do forró ao jazz, do frevo a MPB, e
tinha outros trabalhos autorais como na banda Treminhão, e eu tinha de recomeçar minha vida, mas sempre falava
com Breno que se voltássemos
teríamos êxito, pois até aquele momento eu não tinha escutado nenhuma banda
parecida com o que fazíamos. Breno sempre
falava que só voltaria se fosse para gravar as músicas, mas não lembrávamos
mais das músicas que não tínhamos registrado, lembrávamos de algumas bases, mas
não das músicas por completo!
Então em 2014 recebemos um convite do Sávio Diomedes, nosso velho amigo Hellhammer da banda Lord
Blasphemate para lançarmos um Split com nossas Demos de grande sucesso, e
impacto na cena Metal do nordeste nos anos 90. Ficamos muito honrados, mas a
qualidade sonora da demo era péssima. Quase não conseguíamos ouvir as linhas de
baixo. Foi então que reequalizamos a Demo com nosso amigo Pierre Leite, que veio a compor depois comigo e Nenel Lucena a introdução “Exordium” do CD “Walpurgisnacht”, e mandamos pro Sávio que tinha em mente lançar o selo dele chamado de Ordo Draconian Black Label, o que
ocorreu tempos depois.
Entre a entrega do material e o lançamento demorou mais de
um ano e um dia no começo de 2015, eu fui à casa de Breno com o irmão mais novo dele, Victor, para procurarmos as fitas
que costumávamos gravar nos ensaios em um micro system.
Fita por fita, fomos tocando-as e bebendo, tocando e bebendo,
e lá pras tantas conseguimos achar uma única no meio de umas 50 fitas com uns
ensaios em que registramos o momento em que estávamos pegando as músicas entre
98/99, cometendo alguns erros ainda, tocando as músicas de forma diferente de
como as tocamos, ainda sem letras. Tínhamos várias k7 dessas, de vários
momentos da banda, inclusive com Beto
Santos e depois com Osvaldo na
bateria. Mas dentre as 50 k7 que Breno
guardava de várias gravações de projetos em que ele tocava, apenas essa era da ELIZABETHAN WALPURGA, então supomos que
as outras fitas se perderam no tempo e nas mudanças de casa, mas achamos as
músicas e isso foi muito empolgante. Na hora já entramos em contato com Erick e com Leo sobre termos achado 4 das 5 músicas perdidas. Os dois toparam
na hora e já ficamos pensando em quem seria convidado para tocar bateria.
BD: Bem, em 2015,
vocês retomaram a banda, e já começaram mandando ver em shows, inclusive com a
abertura para o grupo americano ABSU.
Como foi a acolhida do público após o retorno? O saldo tem sido positivo?
Renato: Sim,
voltamos em 2015 apenas para gravar o CD “Walpurgisnacht”,
mas só ensaiamos às vésperas do show que fizemos em setembro de 2016, o show de
10 anos da banda Subinfected, e logo
depois fomos chamados para tocar no festival Visions of Rock, neste evento do ABSU. A receptividade foi excelente e muito além das nossas
expectativas.
Tem um vídeo do primeiro show no Youtube no Burburinho Bar e
o Visions of Rock fez um DVD desse show e oportunamente iremos disponibilizar
esse material em nossa pagina do Facebook e Youtube também.
Em 2017, fizemos apenas 2 shows. O de lançamento do nosso CD
pela Shinigami Records em abril, também no Burburinho, e logo depois um show
fantástico em Caruaru com Alejandro
Flores substituindo Breno. Alejandro é um excelente guitarrista,
de bandas como Inner Demons Rise, Decomposed
God nos anos 90... Mas por causa da volta de Breno para finalizar seu mestrado em música em Portugal, e devido a
compromissos profissionais de Erick
em cursos de reciclagens que teve de fazer fora de Recife, não pudemos aceitar
alguns shows desde então. Voltaremos sem dúvidas a fazer shows novamente em
2018, provavelmente a partir de março, abril e planejamos lançar algumas
músicas inéditas, principalmente a música remanescente dessa primeira fase, uma
música feita por Erick em 2002, que
ele reorganizou agora a pouco tempo.
BD: Falando um pouco do disco. “Walpurgisnacht” mostra uma banda que ousa mostrar um trabalho
diferente do que vemos no Brasil, essa mistura de Black Metal com melodias
vindas do Metal tradicional. Como os fãs têm encarado essa musicalidade
híbrida?
Renato: Recebemos
quase sempre críticas muito positivas em relação a essa diversidade presente na
nossa música, e de como as musicas são diferentes das coisas que os fãs escutam
em outras bandas. Já vimos alguns comentários contrários sobre nossa música
também, mas não nos incomodamos quando temos uma crítica negativa, afinal de
contas, cada um tem o direito de gostar do que quiser gostar! Achamos tão
normal quando alguém ama nosso som ou quando odeia, e não julgamos ninguém por
isso. Tenho grandes amigos que não gostam da banda e fazem suas críticas, mas
você não gostar da minha banda não te faz meu inimigo, nem você gostar te faz
meu amigo!
Para nós essa mistura de sonoridade, de musicalidade é muito
natural, pois sempre fomos assim durante nossas vidas.
Gostamos de Beatles
desde criança e escutávamos bem antes de começarmos a escutar Heavy Metal.
Todas as noites nós descíamos dos nossos apartamentos para ficar tocando, era
uma grande mistura, mas isso exemplifica que nunca separamos a música por
estilos ou por rótulos e sim pelo que nos agrada e pelo que não nos agrada.
Fica muito difícil exibir todas as camadas de todos os diferentes
sons de que sou feito e de que me apropriei e, de tudo que vem de influência,
antes de escutar Rock Progressivo, antes de escutar Heavy Metal, antes de
escutar Rock e de antes de escutar coisas modernas “lá da minha modernagem”.
Discos belíssimos que escutei na infância como os 3 primeiros álbuns do Quinteto Violado (“Quinteto Violado” 1972, “Berra
Boi” de 1973 e “Feira” 1974) ou
os discos da Banda de Pau e Corda
daqui de Recife também dos anos 70!!! Depois de digerir esses discos do Quinteto Violado ainda criança, eu já
me achava pronto para ouvir qualquer coisa com apenas 7 anos. Foram as melhores
definições de como de fazer arranjos para uma música que eu tive e só depois de
muitos anos, quando eu conheci coisas mais complexas foi que as coisas
começaram a serem substituídas na forma de pensar essas estruturas musicais. Algo
de muito além do tempo e de escutar aquelas músicas em 1977, 1978 forjaram a
minha percepção de música e de ocupação de espaços na música e que podemos
ocupar através de uma ilusão sensorial de viajar mesmo por esses acordes e
arranjos, que nos transportam para a irrealidade da vida e isso é o que eu
chamo de perfeição! E nada mais que eu diga a partir de agora vai definir
melhor o que é minha música para mim mesmo!
Então não é só escutar e reconhecer influências como Iron Maiden ou Mercyful Fate, são camadas de músicas das mais diversas
incorporadas, porque somos 5 e trazemos muita musicalidade das nossas vidas. Fazemos
música principalmente para satisfazer a nós mesmos!
BD: Sobre o
repertório de “Walpurgisnacht”,
quantas e quais são as músicas antigas, de antes de pararem, e quais são as
novas? E quais as mudanças que sentiram entre as versões mais antigas e as
novas, e as diferenças entre o material antigo e as novas composições?
Renato: Com
exceção da intro “Exordium”, todas as
músicas são composições da primeira fase da banda. Alguns arranjos com certeza
mudamos, acrescentamos ou cortamos alguma coisa de linha de baixo ou uma frase
de guitarra, talvez, mas quem nos conhecia na época relata que se lembra das
músicas claramente, mesmo depois de tantos anos, quando escuta “Walpurgisnacht” hoje. Queríamos que
este capítulo estivesse presente na nossa biografia de forma a enaltecer todo
aquele momento, que representa quem éramos quando compusemos essas músicas. Mas
hoje em dia tocamos mais do que tocávamos naquela época, especialmente Breno Lira e as condições de gravações
são infinitamente melhores e mais baratas. Queríamos dar as músicas o devido
valor que nós sentimos por elas e “Walpurgisnacht”
nos representa e temos muito orgulho do que conseguimos obter, independente de
qualquer crítica que já recebemos ou venhamos a receber. A principal mudança
está no fato de que não é o mesmo baterista e na minha concepção uma banda
qualquer, não apenas a EW, muda bastante quando o vocalista ou o baterista
muda, mas isso não foi um problema. Arthur
é nosso quinto baterista e estamos bastante satisfeitos com a performance dele
no CD, principalmente por ter gravado tudo em umas 7 horas de estúdio, parando
apenas pra comer uma pizza, ele é surpreendente!
Outra diferença é o fato de que na época as letras não foram
bem traduzidas. Por isso foi feita uma nova tradução das letras originais em
português e com isso algumas partes mudaram drasticamente. Como Mal’lak não teve tempo de estudar essas
mudanças, ele teve de cantar na hora da gravação, pra logo em seguida voltar
para Natal sem chance de vir novamente ao Recife em alguns meses, pois a filha
mais nova dele havia nascido ou estava prestes a nascer. E ficou perfeito a
vocalização e o timbre de voz que ele conseguiu colocar naquele dia foi melhor
do que esperávamos, mas depois dele gravar, senti alguns vazios causados por
essas mudanças nas letras das músicas, talvez. Então acrescentei meus backing
vocais nas músicas para dar mais consistência, mais dramaticidade. Antes eu só
cantava num trecho de “Walpurgisnacht”
e dava alguns gritos vampirescos “Udo
Dirkschneidianos”!!! Mudou a forma como tocamos, pois hoje tocamos as
músicas de forma mais cadenciada e nos sentimos bem executando as músicas da
forma como tocamos hoje. Sempre escutamos referências de que ao vivo parecemos
iguais como tocamos no CD, mas não é verdade, pois no disco colocamos até 4
guitarras fazendo coisas diferentes e em vários trechos, mas a forma como Breno e Erick constroem os acordes, os possibilitam preencher espaços.
Quando escuto Breno tocar, penso que tem ali dois guitarristas tocando ao mesmo
tempo, porque ele sempre coloca terças, quintas e por ai vamos dando mais
textura ao nosso som.
Estamos compondo novas músicas. Fiz 5 músicas e Erick fez uma, além de bases soltas que
temos e a música de Erick
remanescente da primeira fase. Arthur também está compondo alguma coisa, ele
tem uma guitarra de 8 cordas! Animal!!!
Estamos mais maduros e isto está presente na forma que
compomos hoje.
Eu diria
que a maior diferença entre as músicas antigas que gravamos em “Walpurgisnacht” e as que estamos fazendo agora é
que as novas estão chegando naturalmente mais complexas e com novas sonoridades
presentes e isso é muito instigante! Escrevi 3 letras inteiras e Mal’lak também está escrevendo. Não
estamos mais escrevendo exclusivamente sobre vampirismo, pois outros temas nos
atraem. Estamos lendo autores como E. A.
Poe, H. P. Lovecraft, Von Däniken, Sávio Diomedes e mais profundamente sobre Luciferianismo, então acho que refletiremos
mudanças neste sentido. Estou com vontade de cantar mais com vocais limpos e
iremos testar algumas coisas quando entrarmos em estúdio para ensaiar as novas
músicas.
BD: Existem
alguns convidados no CD, que são Nenel
Lucena, Gustavo Coimbra e Rogério
Mendes nos backing vocals. Como foi que tiveram a ideia de chama-los para
participarem?
Renato: Bem,
desde o planejamento eu já tinha convidado Rogério
e Gustavo para participarem da
gravação do CD. Na verdade, a única coisa que eu tinha em mente eram os gritos
que queria colocar em “Walpurgisnacht”,
mas no dia em que foram ao estúdio tivemos essa ideia com Gustavo, que tem um dos melhores vocais que eu já ouvi em minha
vida (fica a dica banda ARKTUS)
acabou gravando em “The Elizabethan Dark
Moon”, com uma ajuda fundamental de Nenel
Lucena para praticamente arranjar os vocais dele. Em “Walpurgisnacht”, eu quis colocar uma diferença potencial entre o
grave de Rogério com o rasgado
enfurecido de Mal’lak e o contraste
ficou exatamente como eu queria.
Foi muito bacana tê-los conosco no estúdio, especialmente Rogério que foi nosso primeiro
vocalista. Mas Gustavo Coimbra é um
grande amigo meu, um irmão que levarei pro resto da minha vida e ele canta
muito \m/. Gostaria que todos
cantassem na banda, acho que eu exploraria bem vários vocais ativos ao vivo,
rsrsrsrsrs.
Fui fazendo alguns backings, e ainda senti falta de uma
coisa mais encorpada na minha voz, pois é muito estranho ouvir a própria voz,
foi então que tive a ideia de fazer várias camadas com ela, como em “Infernorium”: “… I feel things that no
human heart can feel”
eu faço 4 vozes diferentes, e fiz isso em vários momentos do CD, as vezes
fazendo 3 vozes uma em cima da outra, 4 ou 5 e nem sempre eu quis sincronizar
essas vozes, pois tem momentos em que queria enfatizar que eram como se fossem
2 ou 3 seres proclamando ao mesmo tempo. Com a exceção de “Exordium” onde colocamos efeitos de estúdio, pois queria dar outra
dimensão, já que se trata de um ritual para ressuscitar um Lord vampiro. Gostei
muito dessa forma de colocar meus backings nas músicas. Não tem nenhum efeito
de estúdio na voz, são várias camadas de minha voz. Teve um dia em que gravei
rouco e isso deu uma diferença, pelo menos na minha audição desses vocais.
Mas nos próximos trabalhos pretendo fazer todos os backings
vocals.
BD: Se por um
lado as músicas possuem um diferencial e tanto no hibridismo de Metal extremo
com “insight” melódico, as letras parecem acompanhar, e mesmo focando temas
mais obscuros, fogem do satanismo barato. Estou certo? Quais os conceitos e
qual a mensagem que desejam passar com suas letras?
Renato: As letras
tratam do crescimento pessoal de cada indivíduo, tornando o ser humano o centro
do universo e o líder de seu destino. O próprio ser que o definirá como vencedor
diante das hipocrisias da sociedade. As nossas mensagens batem de frente com
alguns valores deturpados que nos são impostos desde o nascimento; a temática
de nossas letras passa por um arcabouço social humanista, política-comportamental
e, principalmente, uma crítica forte às crenças escravizantes que dominam o
mundo há séculos sobre o “manto sagrado” politico, corrupto e opressor das
igrejas cristãs no mundo, que valorizam a obediência cega, em detrimento à
natureza humana.
Mas vamos lá, não somos fundamentalistas quanto a religiões
como um todo, não temos uma identidade única quanto a religião e cada um é cada
um. Ateu, luciferiano, budista, satanista? Não damos muita importância a essa
particularidade de cada um de nós na banda.
Particularmente, acredito em várias coisas. Em minha
opinião, a crença é como costurar panos velhos de vários pedações, tamanhos e
cores, que a mim me parecem serem logicamente sensatos em acreditar. Não
acredito que uma única pessoa dizendo que é dono da luz ou das trevas, nem que
organizações humanas possam ter um pensamento correto e que resuma tudo numa
verdade só.
Um Luciferianista se espelha em
entidades para sua filosofia, suas ações e exercícios de pensar,
desenvolvimento, progressão, ser você mesmo e melhor a cada dia. Devemos conhecer
ambos, as Luzes e as Trevas em seu caminho, nunca se prendendo a nada e sendo
livre para fazer o que quiser. O Luciferianismo é uma filosofia que busca a “Sabedoria
da Luz”, pode-se assim dizer.
Acho muitos aspectos
interessantes em religiões orientais como no budismo ou no hinduísmo, mas não
sou adepto a elas. Não acredito em nada que prenda o homem ou o pensamento
dele. Acredito na liberdade individual de cada um, mas infelizmente as pessoas
não respeitão o que não conhecem e passamos por momentos muito equivocados de
todos os lados.
Bom, abordamos o tema
vampirismo e sei que Mal’lak foi
muito influenciado por Anton LaVey e
Aleister Crowley, mas o real sentido
que resume bem nossa mensagem, em minha opinião, é liberdade! Seja livre e
pense você mesmo sobre o que vai ler em nossas letras, faça suas reflexões! Acho
que esse é sempre o melhor caminho, tirar minhas próprias conclusões e na
maioria das vezes não estou nem a fim de mudar o pensamento de ninguém, eu já
tenho coisas demais para pensar na vida. Trabalho, aprimoramento profissional,
eu tenho uma vida normal, sou pai de uma menina de 3 anos que amo e aprendo
bastante com ela. Acho que tem muita gente por aí precisando amadurecer, não só
na idade, porque na real, isso nem sempre nos define, mas amadurecer suas
ideias, refletir consigo mesmo, buscar seu autoconhecimento, enfim...
Você pode imaginar um vídeo
passando em sua imaginação, um filme, um passeio pelas florestas da Eslováquia,
ou pelo Rio Danúbio, imaginar uma história de terror ou uma história de amor,
brutalidade melódica ou extremismo melancólico, e isso tudo é em nome do que nós
acreditamos, das ligações que temos com o sobrenatural, com o escuro e com a
escuridão, e nós gostamos da escuridão mais do que da luz e assim vai...!
Somos canalizadores de
energia e energia é o que há de mais fundamental e mais poderoso no universo!
Consigo receber e ceder minha energia e isso também é uma forma de vampirismo
num conceito mais moderno, então, somos apenas a fantasia de muitas almas? Há
mais palavras ao redor de nós mesmos e entre nós do que podemos enxergar,
acredite! Também somos fascinados pela loucura sanguinária da Condessa Elizabeth Bathory e ela está
presente em nossas poesias em seu espírito sanguinário e quando compomos
bebemos a ela.
BD: Como foi que
escolheram a Shinigami Records para lançar “Walpurgisnacht”?
Renato: A
Shinigami veio através da Débora Brandão
da Metal Media, que faz nossa assessoria de imprensa.
Discutimos outras 3 propostas para lançarmos o CD em formato
físico, sendo 2 selos europeus e um aqui mesmo do Brasil, mas acreditamos que a
escolha da Shinigami representaria para a banda um “Plus” bem estruturado, pois
sua reputação e credibilidade falam por si só e temos uma visibilidade real de
estar presente na cena de heavy metal do Brasil. Quando alguém nos compra o CD e
percebe o selo da Shinigami já sabe que o produto é de primeira qualidade.
Estamos satisfeitos com o que alcançamos dentro desse
planejamento.
BD: Como tem sido
a resposta de público e crítica para “Walpurgisnacht”?
E verdade seja dita: vi muita gente tratando o ELIZABETHAN WALPURGA como uma das revelações de 2017.
Renato: Que
bacana, não sabia desse tipo de comentário sobre nós, pois nos sentimos uns velhos
cheios de coisas para começar. Isso nos honra, pois esse reconhecimento do
público e da crítica não tem preço. Não tem preço um cara chegar depois do teu
show e dizer “vocês tocam um som da Pooorra!!!”
Hoje tenho mais de mil “amigos” no Facebook e 70% deles
vieram por causa da banda. Me sinto bem em estar próximo de nosso público e de
me tornar amigo de alguns deles. Tanto no Brasil como no exterior a resposta do
público é maravilhosa, muitos elogios!
Até agora só recebemos ótimas resenhas sobre o CD. Algumas críticas
sobre a sonoridade, mas preferimos uma coisa mais crua, mais engastada para dar
maior sentido as composições, ao clima das letras e criar um ambiente em que si
possa acreditar que existam naquelas composições. Quando você escuta o som da ELIZABETHAN WALPURGA, você pode não
escutar originalidade e não é esse o nosso propósito, mas você vai escutar um
som que você não encontrará em outra banda por ai nem em 5 mil CDs diferentes
que você escute aleatoriamente, não adianta procurar, porque não seguimos os
padrões que outros músicos de Black Metal tocam, ou como seguem seus intuições e
procuramos dar as nossas músicas uma identidade única, mas o conjunto delas
retratam algo mais, como uma estória contada num filme de vários capítulos. Respiramos
arte e fazemos arte em forma de música. Oferecemos a quem quiser ouvir!
Não recebemos quase nenhuma crítica escrita no exterior, mas
em contraponto, estamos tocando mais nas rádios undergrounds dos EUA que no
Brasil. Estamos tocando em algumas rádios em Portugal e já fomos destaque em
outras rádios na Alemanha e Colômbia, por exemplo, mas gostaríamos de ter maior
exposição fora do Brasil, pois temos potencial para isso.
BD: Já que
falamos em público, a quantas andam os shows? Fale-nos como são as casas de
shows, eventos e mesmo estrutura de sua cidade e vizinhanças.
Renato: Infelizmente,
com a mudança de Breno para Portugal
em 2015, para realizar seu Mestrado, ficamos muito restritos para fazer shows.
Ano passado, ainda conseguimos no segundo semestre fazer dois shows porque ele
estava aqui em Recife fazendo umas pesquisas relacionadas ao Mestrado dele, e
também no lançamento do nosso CD em abril. Mas mesmo assim, convidamos nosso
amigo Alejandro Flores, que nos
acompanhou em duas músicas no show de lançamento do CD e fez o show no lugar de
Breno em Caruaru, mas por causa de
compromissos profissionais Erick teve
de viajar muito a trabalho neste semestre e com já estamos com um guitarrista
titular fora, tocar sem Erick seria
bastante complicado, pois as músicas são muito complexas e com muitas variações,
inversões e mudanças de andamento.
Ano passado, tivemos bons shows undergrounds com bons
públicos, mas neste ano sentimos bastante pela crise que nosso país atravessa.
Fui a shows de ótimas bandas nacionais e internacionais como headlines, que levaram
pouquíssima gente pros shows, acho que dando prejuízo pros produtores. Mas vejo
que isso está acontecendo em outras cidades onde rola uma cena mais forte de Metal,
inclusive em São Paulo. O público de hoje está indo menos aos shows, mas isso
não é privilegio do Metal nacional, pois a forma com que os jovens de hoje
lidam com música e como essa música chega até eles mudou muito. Precisamos
entender mais e criar algo como o “business do Metal” algo que se sustente e dê
oportunidade às bandas locais, além de trazer bandas de fora da cidade para
enriquecer o cenário, a cultura headbanger. Pelo menos aqui em Recife não temos
lugares assim.
Em Recife, temos dois grandes festivais organizados pela
mesma produtora que são nosso orgulho. O Abril
Pro Rock há duas décadas e o Hellcifest
em sua segunda edição, são espetáculos bem estruturados e atraem público de
vários estados do Nordeste.
Fora isso, temos algumas pequenas produtoras que, por hora, estão
passando por esse momento difícil. Antes tínhamos um local onde os headbangers
da cidade sempre se encontravam nos finais de semana, independente de ter show
ou não e esse lugar não está mais disponível. O Dokas era a grande casa do Metal
pernambucano nos anos 90 e 2000.
Uma pena, pois atravessamos um bom momento da música extrema
em Recife, com várias bandas novas lançando grandes músicas e bandas antigas
voltando e outras gravando.
Mas estamos animados em poder tocar aqui em 2018 e em outras
cidades. Estamos planejando uma mini turnê por algumas cidades do nordeste com
a Lord Blasphemate, Agnideva e Pantáculo Místico e se conseguirmos
concretizar será histórica essa tour!
Tem uma cena boa em Arapiraca, em Alagoas. Caruaru já teve
uma cena Metal maior, mas mais hoje está com menos público. O interior do
estado tem muito headbanger que dá valor a cena suas cenas locais e em lurares
como Surubim, Toritama e Paudalho tem mostrado a força do interior. O mesmo
acontece em Petrolina, que está em fase de crescimento da cena. Vejamos como
será ano que vem e depois, mas queremos tocar onde nos convidarem e já temos um
pré-convite para tocar num festival em São Paulo ano que vem. Se conseguirmos
encaixar outras datas será bem legal poder tocar no sudeste pela primeira vez.
Temos uma cena forte em Natal e Mossoró no Rio Grande do Norte, em Fortaleza e
em Campina Grande na Paraíba, mas se compararmos com a cena dos anos 90, hoje
não temos nem a metade do público que ia aos shows antigamente! Não tinha Youtube
pra ver o show de casa comendo pipoca e tomando cerveja barata!!!
BD: Ainda sobre shows, existe alguma boa proposta de fora? E
já está na hora do ELIZABETHAN WALPURGA
se aventurar pelo eixo RJ-SP-MG, pois chega a ser uma lástima que uma banda tão
boa fique restrita ao Nordeste.
Renato: Sim, nada
de concreto, mas já fomos sondados para tocar num importante festival que
acontece em São Paulo (estado). Se isso se confirmar podemos fazer uma tour fechando
algumas datas, mas nenhum convite em Minas ou no Rio até o momento.
Mesmo pra tocar hoje aqui no Nordeste tem de ser muito bem
planejado, porque as vezes acontecem outros eventos que diminuem o público nos
shows.
BD: Apesar de “Walpurgisnacht” ainda ser bem recente,
já existem planos para algo novo em 2018?
Renato: Nada
concreto. Não sabemos se teremos tempo de gravar alguma coisa ou se as músicas
já estarão prontas. Gostaria de colocar alguma música nova numa coletânea
lançando um single ou um EP com algum cover que nos identifique. Falei com Hellhammer para ele lançar uma
coletânea só com bandas do Nordeste, que estejam no contexto que ele enfatizou
meses atrás quando lançou o manifesto da Nova
Tempestade do Black Metal Nordestino, mas os planos estão voltados mais
para realizarmos a maior quantidade de shows possíveis e gravarmos um vídeo clipe,
até já escolhemos qual será a música, talvez um show ao vivo pra gravar um DVD,
nada de concreto mesmo!
BD: Muitos podem
querer dar palpites nessa pergunta, mas vamos apimentar um pouco: há algum
tempo, muitos bangers têm dado uma de moralistas em relação ás artes
degeneradas. Agora, como consequência, um projeto de lei de um deputado da
bancada evangélica pode acabar censurando o Metal. O que acha disso? Não acha
que esse conservadorismo moralista de muitos seria um sinal que a pessoal ouviu
o Metal, mas não compreendeu a liberdade que ele nos concede?
Renato: Sim, eu
acho que todo mundo pode dar seu palpite seja para elogiar ou para criticar
mesmo no que quer que seja, e ninguém tem nada haver com isso, mas acho que
ninguém tem o direito de denegrir a imagem de ninguém, de julgar ninguém pelo
que elas escutam na música ou deixam de escutar, da forma como cortam seus
cabelos, das roupas que usam, de sua cor, de sua raça, de sua idade, de sua
identidade, enfim, não pactuamos com esse tipo de pensamento restritivo. É como
se você pudesse descrever quem uma pessoa é simplesmente por algumas escolhas
que elas fazem, num campo totalmente subjetivo, ou seja, ninguém é bom caráter
por ser satanista e ninguém é mau caráter por ser cristão, na minha opinião!
São outros valores que devem servir para uma pessoa fazer parte ou não de sua
vida. Isso não nos faz melhores do que os outros, apesar de acreditar que a
evolução pessoal de cada um, dentre outros 1777 argumentos, acredito que nos
tornamos melhores que os outros quando comparamos nossas capacidades,
habilidades, enfim, mas infelizmente caminhamos por caminhos diferentes e
vivemos uma época onde a intolerância tem voz ativa e, por causa proporção que
um post, pode-se atingir, nas redes sociais, pessoas potencialmente inocentes, mas
sendo bem sincero, estou “cagando e andando” em cima do que essas pessoas
pensam ou deixam de pensar. As pessoas passam muito tempo observando o que os
outros fazem e esquecem-se de cuidar de seus projetos pessoais, vivem vidas que
não são suas, tentam se enquadrar em alguma coisa maior que elas próprias, pois
não se sentem seguras sentindo-se sozinhas e na minha opinião, quem se
restringe a experimentar coisas novas e diferentes, não estou falando de Heavy Metal
apenas, na vida de cada um sobre qualquer aspecto de sua vida, vai ficar pra
trás no tempo e não vai perceber o quanto perdeu até perceber que não há mais
tempo para experimentar mais nada!
Quem é você pra dizer o que eu sou, o que eu gosto, o que eu
devo comprar, o que eu devo escutar, a que shows devo ir ou não ir e quem é
você pra me julgar por isso? Sou muito maior do que o seu julgamento e qualquer
um pode se sentir da mesma forma, basta ser autentico e agir com dignidade.
Vivemos no país do faz de contas, no país dos milhões roubados
todos os dias, desde que o Brasil é Brasil e as piores necroses sempre foram e
sempre serão as elites desse país podre e das suas milhares de fantasias!
O governo faz de conta que governa. A gente faz de conta que
é cidadão. Os professores fazem de contam que ensinam e os alunos fazem de
conta que aprendem. Os legisladores fazem de conta que legislam. Os juízes
fazem de conta que julgam. Os advogados fazem de conta que acreditam que todos
são inocentes. As pessoas fazem de conta que se respeitam e que respeitam os direitos
dos outros, mas na verdade não respeitamos nem a nós mesmos! Veja que pais nós
construímos!!!
O que vai mudar na vida de alguém se souber que eu sou fã de
Lenine ou que Erick só escutou 4 ou 5 bandas de Black Metal durante toda sua
vida? De que vale a pena saber se Mal’lak
escuta mais Black Metal que qualquer outra coisa, ou que Breno não tem mais paciência para ouvir nada de Metal que foi feito
depois do “The Gallery” do Dark Tranquillity?
Essas pessoas dão suas opiniões porque necessitam de atenção.
Imagino o quão sozinhas são e de como são infelizes com seus cérebros
engessados pela intolerância e pela falta de curiosidade de conhecer o novo, o
diferente. Eu sei que também tem gente que é feliz de verdade sendo assim, mas
não cabe a crítica a quem é diferente de você?
Antigamente, quando não existiam redes sociais, as relações
de amizade eram bem mais próximas, então, quando algum amigo “dava uma de
radical” na minha turma, por exemplo, a gente criticava o cara, chamava logo de
“donzelo” ou de “tabacudo” e o cara meio que aceitava a crítica e não se
habituava a ser da forma radical, que pensou ser a maneira certa de agir. Hoje
em dia, o cara fala qualquer coisa lá e tem gente pra reverberar e pensar da
mesma forma, dá respaldo aquilo e vira uma bola de neve, mas no fundo as
pessoas compartilham suas opiniões e vivem as experiências que os ouros viveram
e perdem suas essenciais, sua originalidade, pois devíamos ser únicos e mesmo
assim convivermos com essa heterogeneidade de ser quem você é, de ser quem você
quiser ser! Mas o mundo mudou bastante...
Não concordo com esse tipo de pensamento, mas não acho que
ninguém seja pior ou melhor por causa disso. O que define a qualidade de uma
pessoa pra mim são outros valores e a mim não importam quantas bandas de metal
diferentes você conhece, se você sabe o nome de todos os integrantes de todas
as bandas ou quantos milhares de CDs você tem, e sim como você trata seus
amigos, sua família, como você (homem) trata sua esposa ou namorada, ou como
trata qualquer mulher, como você educa seus filhos, como você se importa de
verdade com seus filhos e não quantas vezes vocês fala “666 viva Satanás” por
dia!!! Se importar se um som é “puro” ou “impuro”, não faz nenhum sentido lógico
e por isso essas pessoas não têm a minha atenção, são como pessoas que na multidão
que passam por mim todos os dias nas ruas, isso na minha opinião e não estou
aqui querendo vender minha ideia a qualquer preço, mas apenas genuinamente expressando
a minha opinião sobre radicalismos de qualquer parte que seja.
A maioria, pra não dizer na totalidade, de quem coloca o
nome de um deus pra justificar qualquer coisa de seu caráter já não deve ser
uma pessoa confiável ou equilibrada, em minha opinião. Estamos vendo a bancada evangélica
totalmente envolvida com a corrupção no Brasil e as religiões ocidentais sempre
tiveram tentáculos no poder, quando não representavam o poder ela mesma. Nunca
se matou tanto em nome da religião quanto a igreja católica ao longo dos
séculos, nunca se manipulou tanto a fé das pessoas e a verdade sobre as
estórias criadas pelo poder para dominar mais ovelhinhas e as pessoas não
pensam nisso e quando pensam tendem a pensar que é uma história de faz de conta
e que está sendo contada num livro de história e que não foi real, que era em
nome de Deus “e Deus está no comando”!!!! Não coloque deuses ou demônios para
justificarem seus atos, seja você mesmo e as respostas serão mais claras em sua
vida.
As pessoas ficam chocadas se você diz ser um satanista ou um
luciferiano, mas não acham nada demais quando um padre católico é acusado de
pedofilia! Se importam mais se o cara tem tatuagem do que se tem caráter, são
valores que não fazem parte da minha personalidade. Como vou deixar de amar
minha mãe só por ela ser cristã??? Quem você odeia mesmo???
O Rock sempre esteve interligado com o novo, a transgressão
do que é consensualmente definido pelos padrões da sociedade. O Rock não
morreu, são as pessoas que estão envelhecendo muito antes do tempo!
BD: Ainda tendo
em vista a pergunta anterior, quais seriam as maiores diferenças entre os
headbangers da época em que começaram e os de hoje?
Renato: Tínhamos
valores diferentes, muitas diferenças como ainda temos hoje em dia, mas
priorizávamos as afinidades. Havia mais valorização do ser humano, mas não acho
que isso ocorra somente no meio do Metal, isso vem mudando na sociedade e as
pessoas são banalizadas pelas outras hoje, não se valorizam nem se respeitam
mais as individualidades, a não ser que você seja um dos que ditam as regras!!!
Me lembro de achar alguns garotos meio chatos na época da
escola e nem os conhecia de verdade, mas quando sabia que o cara era headbanger
a coisa mudava e passávamos por cima de pequenas diferenças, porque a
identidade de escutar Metal era maior do que as outras 2112 diferenças que
existiam entre dois possíveis amigos.
Há uma diferença em como as pessoas hoje constroem suas
relações com outras pessoas, mas isso é evolução, não adianta ser saudosista,
porque o trem já passou, já virou locomotiva e não adianta ficarmos feito os “corroas”
da nossa juventude, que achavam muita ousadia homem ter cabelo comprido ou
homem usar brinco ou camiseta cor de rosa!!!
BD: Bem, é isso.
Agradecemos pela entrevista mais uma vez, e, por favor, deixe sua mensagem para
seus fãs e aos leitores.
Nós que agradecemos a oportunidade e queremos deixar aqui
nosso muito obrigado e que estamos sempre abertos e disponíveis para o Metal Samsara e para essa imprensa underground,
que tanto tem nos valorizado.
Obrigado aos fãs, aos que acompanham a banda, aos que já
puderam comprar nosso CD, aos que já escutaram nosso CD, ou que baixaram em
sites piratas também, o que importa é que você dá valor ao que fazemos e vamos continuar
mesmo a fazer, pelo tempo que quisermos fazer!
Mais novidades virão em 2018 e esperamos encontrar com vocês
em nosso shows ano que vem! Fiquem ligados \m/
Somos uma banda de Heavy Metal do Nordeste do Brasil e não
estamos aqui para brincar com você, estamos aqui para produzir arte de alto
nível e não nos importa o julgamento que os outros façam dela, porque amamos o
que fazemos e não fazemos isso para os outros, fazemos para nós mesmo!
Nós sangramos o seu som e sangramos nossos sentimentos, nossas
almas em nossas músicas, porque somos a ELIZABETHAN
WALPURGA, somos uma banda de Metal de Recife \m/
Renato Matos.
06/11/2017.
Ouça as faixas “Infernorium”
e “Transylvanian Cry”:
Contatos:
E-mail: elizabethan.walpurga@gmail.com
Imprensa: http://www.metalmedia.com.br/elizabethanwalpurga/index.php