sábado, 2 de dezembro de 2017

RATTLE (Thrash/Death Metal - Salvador/BA)


Início de atividades: Dezembro de 2009

Discos lançados: “Pain is Inevitable” (Split, 2011); “Hellstouch” (Coletânea, Shinigami Rec, 2012); “Tales of the Dark Cult” (Shinigami Rec, 2015)

Formação atual: Val Oliveira (vocals), Henrique Coqueiro (guitar), Daniel Iannini (bass), Eric Dias (drums)

Cidade/Estado: Salvador, Bahia


BD: Como a banda começou? O que os incentivou a formarem uma banda?

Val Oliveira: A banda começou através de contatos via Orkut, acredite. Eu, Val Oliveira, tinha encerrado minha antiga banda um ano antes, e uma amiga minha disse que tinha uns garotos querendo montar uma banda com pegada Thrash e procuravam um vocalista. Fui encontrar eles, e nessa contatei um guitarrista, que era o Henrique. Tivemos uma reunião, marcamos um ensaio e começamos a compor. A meta, que estipulei, era só tocar quando tivéssemos sons suficientes para um show razoável, e pensamos desde o inicio em gravar algo oficial. E fomos compondo, até que surgiu a hora de entrar em estúdio e registrar o material que tínhamos, e que foi a base do EP “Hell of the Living Dead”, parte integrante do Split “Pain is Inevitable”. A meta da gente sempre foi compor algo visando futura gravação e shows, e não se prender muito a estilos e rótulos, mas com uma base no Thrash e no Death Metal.


BD: Quais as maiores dificuldades que estão enfrentando no cenário?

Val: Shows escassos, poucas casas de shows, segmentação e segregação de estilos e produtores duas caras, picaretas, fora as já clássicas e famosas panelas, que aqui é algo muito forte, e desvalorização das bandas.


BD: Como estão as condições em sua cidade em termos de Metal/Rock? Conseguem tocar com regularidade? A estrutura é boa?

Val: Está tendo eventos, mas muita coisa que rola é cover, ou shows com as mesmas bandas, nos mesmos locais, as velhas coligações. Como nos recusamos a fazer parte de panelas, ai não temos tocado muito. Na verdade, temos tocado cada vez menos. Ultimo show que fizemos foi novembro de 2016. Resolvemos então focar em compor para um futuro segundo Full Lenght. Parte da banda, para não ficar estagnado, montou alguns projetos paralelos. Em termos de estrutura, as poucas casas que tem aqui, tem uma estrutura razoável a boa. As casas melhores não costumam abrir espaço para Metal, ou para bandas menores.


BD: Hoje em dia, muitos gostam de declarar o fim do Metal, já que grandes nomes estão partindo, e outros parando. Mas e vocês, que são uma banda, como encaram esse tipo de comentário?

Val: O Metal nunca vai acabar. Vai se renovar, mas com uma nova leva de pessoas que não consome musica, que baixa, não liga pra encarte, para quem compôs, não apóia, não vai a shows, na compra matéria, ai fica tudo mais difícil. Creio que vá ser difícil alguma banda chegar no patamar que o Metallica, Maiden, Sabbath entre outros medalhões estão. Não há mais o tanto de vendas como antigamente. Mas o Metal é um estilo forte, e tem uma base de fãs, admiradores fiéis. Vai continuar, vai se renovar, e sobreviver. Só que como eu disse, bandas pequenas terão que ralar muito para sobreviver, ter um lugar ao sol. Vendas não garantem mais nada, e sim shows, divulgação nos diversos meios. Tem que mostrar a cara e cativar audiência.


BD: Em termos de Brasil, o que ainda falta para o cenário dar certo? Qual sua opinião?

Val: Mais espaço para as bandas, sejam elas pequenas e novas, médias e grandes. Mais união, coisa que é complicada por diversos motivos. Mais espaços para shows, e eventos. Mas, nada disso adianta sem o público, que vá a shows, que consuma material e apoie bandas e o cenário. O que é complicado, devido a segmentações, as divergências, ao radicalismo, e às ideias retrógradas que envenenam e se espalham. Se não gosta de algo, deixa lá, cada um tem o direito de curtir o que quiser. O importante é respeito, e seguir curtindo o som, e fortalecer o cenário.


BD: Deixem sua mensagem final para os leitores.

Val: Obrigado pelo espaço cedido, Marcos. O Metal Samsara é um importante veículo de divulgação e comunicação. E esperamos que os leitores e seguidores curtam nosso som, e apoiem as bandas novas do cenário nacional, e procurem conhecer o que existe no underground brasileiro. Stay Metal!


Links para contatos:


  


MORCROF - A Future Not So Far / Scientia Ab Mortuus (Demos Relançadas)


2017
Nacional

Nota: 8,5/10,0

A Future Not So Far


Tracklist:

1. A Future Not So Far                     
2. Concentration Camp (Yourself)               
3. Image of Torture               
4. Rotten Food                      
5. Chermical War                  
6. Skin           
7. Hemorrhage to the War                
8. It’s Explanation Is Your God                  
9. Name to the Kings            
10. Lastimation (instrumental)
11. Ambicionato
12. The Morcrof (Souls to Capture)


Banda:

Ludwick Schölzel - Vocais
Caecus Magice - Guitarras
R. Bressan - Guitarras
Paullus Moura - Baixo, vocais
Feralis - Bateria


Scientia Ab Mortuus


Tracklist:

1. Incidental Intro (acts I / II)          
2. Portal to the Knowledge / Buried Alive Existence
3. Incidental Intro (acts III / IV)
4. Nihilism (Prophect Conjecture)
5. Outro
6. The Forest N’Gai  


Banda:

Ludwick Schölzel - Vocais
Pétros Nilo - Guitarras
R. Bressan - Guitarras, teclados
Paullus Moura - Baixo, vocais
B. Gênes Hajj-Ahriman - Bateria


Contatos:

Twitter:
Youtube:
Instagram:
Assessoria: http://www.facebook.com/cangacorockcomunicacoes/ (Cangaço Rock Comunicações)


Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


No mundo: No final dos anos 80 e início dos anos 90, o Metal sofreu uma grande reviravolta no mundo inteiro. Com a saída do Hard Rock/Glam Metal da evidência nas rádios, revistas e MTV e chegada do Grunge e Alternativo, o estilo ficou ilhado na Europa, como havia ocorrido no início da Idade Média com a queda do Império Romano e as invasões bárbaras. O Thrash Metal americano também dava sinais de cansaço, e seu espaço começava a ser tomado pela segunda leva de bandas de Death Metal vindas da Flórida e da Suécia. E no submundo do underground, o Black Metal começava a ressuscitar na Noruega, Grécia Finlândia e Suécia. Já em 1996, o Black Metal havia tomado o espaço do Death Metal como estilo mais proeminente do Metal extremo, e o Grunge começava a desaparecer e o Metal a se fortalecer mundialmente mais uma vez.

No Brasil: em 1993, uma crise financeira absurda assolava o país, legado do regime militar e que recebeu continuidade dos primeiros governos da democracia brasileira. E essa mesma crise comprometia muito do cenário Metal, com bandas incapazes de se sustentarem e acabando, com parco acesso a instrumentos e equipamentos musicais importados (os nacionais eram terríveis). Os mais jovens lutavam para se manterem vivos nos porões do underground. E assim como na Europa, o Black Metal começou a ganhar nova vida enquanto o Death Metal estava mais proeminente. Em 1996, com a economia mais estabilizada e o poder aquisitivo melhor, as bandas já conseguiam respirar, e enquanto muitas pararam, outras chegaram ao sucesso, o underground fervia.

E na escuridão, o MORCROF, veterano do Black Metal de São Paulo, começava sua saga. E em pleno auge da crise econômica do país, em janeiro de 1994, a banda lançou seu primeiro registro sonoro, a Demo Tape “A Future Not So Far”, e em 1996, surgiu com a segunda Demo Tape, “Scientia Ab Mortuus”. E ambas estão sendo relançadas agora pela Erinnys Productions.

Nas épocas de cada uma, o formato K7 ainda era o usual (somente mais próximo ao final dos anos 90 é que os Demos CDs se tornariam mais usuais e populares).

Formação que gravou “A Future Not So Far”
em 1993 e em 2017. 
Em “A Future Not So Far”, O MORCROF mostrava-se bem influenciado pelas bandas de Death Metal mais sinistras da época, mas em geral, com a mesma aura sombria que permeia seus trabalhos até os dias de hoje. Já se percebe muito da carga obscura dos tempos mais cadenciados que o Black Metal grego primordial mostrava. Isso nos permite observar uma consensualidade no trabalho do grupo desde a época até os dias de hoje. Óbvio que na época eles possuíam mais de BENEDICTION, NAPALM DEATH e outras da escola inglesa do gênero do que de VARATHRON e ROTTING CHRIST, mas já mostrava-se uma banda focada em criar algo mais soturno e climático do que veloz e explosivo.

Dois anos depois, lançando “Scientia Ab Mortuus” já mostra o MORCROF bem mais voltado ao Black Metal atmosférico sinistro que os caracteriza nos dias de hoje. Os teclados dão uma ambientação fúnebre, com riffs mórbidos e a base rítmica já mais diversificada em andamentos mais cadenciados, e os vocais continuam focados nos timbres guturais de antes, mas já permitindo alguns urros rasgados e vozes normais vez por outra. As melodias soturnas da banda finalmente surgem aqui, e assim, fica evidenciada a diferença estilística leva muitos a considerar este trabalho o início real do grupo.

Em termos de qualidade sonora, “A Future Not So Far” é podre e crua, com uma sonoridade suja bem característica de seu tempo (lembrando: crise econômica = pouco poder aquisitivo = menor possibilidades em estúdio). E “Scientia Ab Mortuus” ostenta uma qualidade melhor (momentos mais limpos são bem claros os ouvidos, assim como os teclados), embora ainda seja crua devido ao estilo sonoro em si e aos timbres usados.

Em termos de artes, “A Future Not So Far” recebeu uma nova arte, que transparece as características gráficas originais, apenas para uma apresentação melhor, e é um desenho chamado “The Demons of Yanaidar”, que consta na página 52 do número 18 da revista “A Espada Selvagem de Conan”, lançada em 1986 pela Editora Abril, São Paulo, feita por John Buscema (o artista mais conhecido em seus desenhos do personagem) e Tony De Zuninga. E o formato é o conhecido cardboard sleeve, a capa que lembra um vinil.

“Scientia Ab Mortuus” manteve a capa original, só adaptada para CD, mas com encarte e também no formato cardboard sleeve.

O relançamento de ambos os trabalhos, como mencionado acima, nos permite observar que existem características comuns em ambas as fases, e algumas que permanecerão na personalidade da banda após tantos anos. Além do mais, tanto “A Future Not So Far” como “Scientia Ab Mortuus” possuem enorme importância histórica para aqueles que buscam conhecer o que é feito em Metal aqui nesses anos de muitas lutas.

Em “Future Not So Far”, a banda mostra um trabalho ainda no estágio inicial, bem Death Metal. Mas se repararem direito, aquela aura opressiva que todos conhecem dos trabalhos futuros da banda se mostra em muitos momentos, especialmente em “Concentration Camp (Yourself)”, “Rotten Food” (reparem em alguns momentos mais técnicos de baixo e bateria), “It’s Explanation Is Your God”, e na instrumental “Lastimation”. Mas nessa edição, ainda existem duas faixas extras, “Ambicionato” e “The Morcrof (Souls to Capture)”, que soam ainda mais podres que as anteriores. Mas tenham em mente que este material tem mais de 20 anos de lançamento. E aqui, temos a participação de Caecus Magice nas guitarras e Feralis na bateria.

Em “Scientia Ab Mortuus”, já nota-se a presença de novos membros: Pétros Nilo nas guitarras, e B. Gênes Hajj-Ahriman na bateria, além de R. Bressan assumir os teclados (além das guitarras, como antes).

Agora, em termos de sonoridade, o MORCROF já se mostra mais maduro e coeso, e toda a carga do Black Metal helênico que os influenciou está presente. Mas isso não quer dizer que a banda não tenha personalidade, longe disso: quem os conhece, os respeita por saberem o quanto sua música é pessoal. E outro traço que surge neste trabalho e permanece até os dias de hoje são as canções longas. “Portal to the Knowledge/Buried Alive Existence” é recheada de boas melodias e ótimos vocais, além da base rítmica estar de primeira, assim como a procissão fúnebre denominada “Nihilism (Prophect Conjecture)”, também cadenciada e cheia de belos teclados e guitarras em riffs criativos. E ainda temos um bônus, a versão ao vivo da banda para “The Forest N’Gai”, do ROTTING CHRIST, gravada no “Evil Prayer To The Knowledge Fest” de 1995, onde a crueza impera (mas o que esperar de uma gravação ao vivo da época?).

No mais, tanto “A Future Not So Far” quanto “Scientia Ab Mortuus” são obrigatórios aos fãs de Metal extremo, e também para aqueles que gostam de acompanhar a história do Metal brasileiro.