sexta-feira, 17 de novembro de 2017

POSSESSED - Seven Churches (Álbum)


1985
Selo: Combat Records
Nacional

Tracklist:

1. The Exorcist
2. Pentagram
3. Burning in Hell
4. Evil Warriors
5. Seven Churches
6. Satan’s Curse
7. Holy Hell
8. Twisted Minds
9. Fallen Angel
10. Death Metal


Banda:


Jeff Becerra - Vocais, baixo
Mike Torrao - Guitarras
Larry Lalonde - Guitarras
Mike Sus - Bateria


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Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia

A primeira metade dos anos 80 foi um verdadeiro “Big Bang” em termos de Metal. Tudo o que os 3 pilares do Metal criaram (BLACK SABBATH, JUDAS PRIEST, MOTORHEAD) haviam criado nos anos 70, ganhou ecos e se tornou mais diversificado, surgindo os primeiros subgêneros do Metal. Entre 1983 e 1985, surgiram as primeiras indicações do que viria a ser o Death Metal, com várias bandas no eixo EUA-Europa fazendo suas contribuições. Friso para o caro leitor que, na época, os limites estéticos entre as vertentes de Metal eram muito tênues. Mas bandas como VENOM, SLAYER, METALLICA, HELLHAMMER/CELTIC FROST, KREATOR, DESTRUCTION, SODOM, BATHORY e outros ajudaram muito a lançar as bases do que seria o Death Metal. São bandas que, junto com os pilares, estavam influenciando os jovens. Em 16 de outubro de 1985, veio ao mundo um dos discos mais importantes do Death Metal, “Seven Churches”, disco de estréia do quarteto Norte-Americano POSSESSED.

Mas surge a pergunta: podemos realmente dizer que ele é o marco zero do Death Metal, como muitos afirmam?

Antes que comecem o mimimi insuportável e os atos de contestação, peço que o leitor se atenha apenas aos fatos.  

Antes de tudo, é preciso lembrar que nos EUA, MANTAS na Flórida (que viria a se transformar no DEATH anos depois) e as primeiras encarnações do MASTER em Chigado são do mesmo ano de fundação do quarteto de San Francisco (este último era para ter lançado seu primeiro disco também em 1985, mas a Combate Records o deixou na gaveta). E as primeiras Demo-Tapes do DEATH (chamada “Death by Metal”) e do POSSESSED (a famigerada “Death Metal”) são do mesmo ano, sem maiores detalhes. Se pularmos para a Europa, o HELLHAMMER lança sua primeira Demo, “Death Fiend”, em junho de 1983, o mesmo valendo para o inglês ONSLAUGHT com sua “Demo 1” de 1983 (a banda se dizia na época uma banda de Death Metal, como consta no encarte de “Power from Hell”). Se colocarmos o SODOM na equação, “Witching Metal” é de 1982. Desta forma, vemos que o rótulo de “criador” do Death Metal não é lá muito justo, já que o estilo não foi construído apenas pelo POSSESSED.

Por outro lado, o POSSESSED não se dizia uma banda de Death Metal. Aliás, dizer que eles eram influenciados pelo SLAYER ou VENOM chegava a soar como ofensa para os rapazes. Conforme entrevistas de 1986 e 1987, eles se diziam uma banda de Thrash Metal influenciada por EXODUS, METALLICA e bandas de Hardcore.

Sim, o tema é bem confuso e cheio de polêmicas. Mas seja lá o lado que assumir nessa peleja (embora o mais certo seja deixar isso para lá, pois é passado), não se pode negar o quanto “Seven Churches” é influente para a cena Death Metal americana, e mesmo mundial.

O que temos no disco são dez canções que estão consolidando o Death Metal inicial, lhe dando uma característica própria. Óbvio que o DEATH veio a dar uma ajustada melhor nas coisas com “Scream Bloody Gore” e “Leprosy”, mas o trabalho de Jeff Becerra (na época, com 17 anos), Mike Torrao (21 anos), Larry Lalonde (17 anos) e Mike Sus (20 anos) iria definir as raízes da escola Norte-Americana de Death Metal. Nas palavras do saudoso Chuck Schuldiner, “Seven Churches” é “um disco seminal para o Death Metal”.

O que se ouve em “Seven Churches”: uma banda bem jovem ainda, mostrando uma energia descomunal, uma garra diferente, e uma visão de que, naqueles anos dourados, quanto mais extremo, rápido e distorcido, melhor. Mas não se pode negar que os quatro possuíam boa técnica, já que em termos de riffs, o POSSESSED é um mestre em gerar uma muralha compacta de bases distorcidas e solos doentios. A bateria tem boa técnica, enquanto o baixo fica mais preso à marcação, enquanto os guturais irão definir um molde para o futuro. Se eles não se achavam uma banda de Death Metal, imaginem se eles se dissessem como tal...

A produção do disco ficou nas mãos de Randy Burns (que ainda tocou teclados na introdução de “The Exorcist” e “Fallen Angel”, e tal afirmação deve estar fazendo o estômago de muito true se virar, mas a verdade é assim). É a sonoridade característica que muitos grupos usarão no futuro, brutal e crua na medida certa, mas com a dose de clareza necessária para não transformar “Seven Churches” em uma massa sonora doentia e sem definição sonora. Talvez alguns fãs gostassem de algo mais nessa linha, mas tenhamos em mente: o quarteto se dizia uma banda de Thrash Metal na época.

A capa é bem simples: preta, com o logo da banda e o nome em vermelho. Um detalhe muito legal da versão em vinil da época (que mesmo as primeiras edições nacionais possuíam) era o contraste em alto relevo. Algo bem diferente para aqueles tempos.

Contracapa da versão em vinil de  “Seven Churches”

Musicalmente, não chega a ser um pecado dizer que o POSSESSED era uma banda adiante de seu tempo. Se considerarmos “Seven Churches” um disco de Death Metal (e não o que a banda dizia), todos os elementos que MORBID ANGEL, DEICIDE, CANNIBAL CORPSE, AUTOPSY e outros irão usar e abusar alguns anos depois são apresentados aqui. O futuro começou em nesse disco. Até visualmente eles influenciaram muitas bandas (o próprio SEPULTURA na época de “Morbid Visions” usava um visual bem parecido), como ainda influenciam até hoje.

Entre 1985 e 1987, várias resenhas achincalharam com “Seven Churches”. “Repetitivo”, “barulhento”, “extremo demais” foram alguns dos adjetivos usados. Algumas publicações norte-americanas foram mais generosas. Este autor não concorda ou discorda delas, apenas possuindo uma opinião diferente: abordar esse álbum não é algo simples nem mesmo nos dias de hoje, ainda mais na época de seu lançamento. Mesmo porque ele era extremamente brutal para aqueles dias. Mas em termos muito particulares, gosto de dizer que 80% desse disco é mais que satisfatório, mostrando talento inegável em faixas como “The Exorcist” (reparem nos momentos instrumentais antes da primeira sessão de solos, e vejam o que eu chamo de muralha de riffs de guitarra claramente), a brutalidade sonora esmagadora de “Burning in Hell” e “Seven Churches” (se repararem bem, a base rítmica mostra uma coesão de primeira, mas a ateria mostra uma técnica muito boa), a explosão de crueza sonora de “Satan’s Curse” e “Fallen Angel”  (vejam como os vocais se encaixam perfeitamente, com boa noção de tempo), e a mais elaborada “Twisted Minds”, que mostra um trabalho técnico que viria a nortear “Beyond the Gates” e o EP “The Eyes of Horror”. Agora, falar de “Death Metal” chega a ser uma honra: é o hino do gênero, com guitarras excelentes, a solidez de baixo e bateria (especialmente na parte instrumental antes dos solos), e vocais fantásticos.

Óbvio que muitos fãs até hoje reclamam das resenhas da época, mas me dou o direito a uma pergunta a cada um deles: se reclamam que os escritores nada entendiam porque “Seven Churches” era algo novo para a época, como querem reclamar tanto dos gêneros mais modernos do Metal? Não é a mesma coisa?

A língua de ontem é o chicote que bate no rabo amanhã, logo...

Se “Seven Churches” não for o marco zero do Death Metal (deixo a vocês, caros leitores, o direito de terem suas próprias ideias sobre este assunto, e não aceitem que outros fãs mais velhos ou outros lhes digam algo como verdade absoluta), é um de seus maiores clássicos. E uma pena que eles não seguiram este caminho dos discos seguintes (os já citados “Beyond the Gates” e “The Eyes of Horror”). Mas como o grupo está de volta e um disco novo chega ano que vem, resta a esperança de que algo nessa linha esteja a caminho.

Jeff Becerra (vocais, baixo)

Mike Torrao (guitarras)

Larry Lalonde (guitarras)

Mike Sus (bateria)