Por Marcos “Big Daddy” Garcia
Como todos os nomes mais proeminentes do
Metal brasileiro, o nome do quarteto paulista TORTURE SQUAD vez por outra está envolto em polêmicas. Mas apesar
delas, o disco mais recente do grupo, “Far
Beyond Existance” tem sido bem recebido por público e crítica.
Aproveitando o bom momento que a banda
está vivendo, aproveitamos para bater um papo com eles e saber um pouco do
passado, do presente e planos futuros.
BD: Saudações.
Antes de tudo, quero agradecer pela entrevista. Para começar, uma curiosidade:
após “Esquadrão de Tortura” e “Coup d'État Live”, em que a banda
parecia com sua line-up estabilizada, pufff, mudanças de formação, com a
entrada de Mayara e Rene. O que aconteceu, afinal de
contas?
Castor: O período do
álbum “Esquadrão de Tortura” foi um grande aprendizado pra nós em todos os
sentidos! Temos muito orgulho dele! Mas eu e o Amilcar sentimos que era hora de voltar a sermos quarteto, a nossa
essência, com uma voz que seguisse a fórmula do TORTURE SQUAD.
Amilcar:
A
gente resolveu voltar com uma voz mais Death Metal novamente e o André foi transparecendo um
descontentamento em relação a isso, até que ele saiu e deu lugar ao Rene Simionato, que sempre foi fã da
banda e está muito feliz em continuar essa história com o TORTURE SQUAD.
Amilcar Christófaro |
Castor: Foi uma coisa
mútua entre a banda e pessoas quererem algo inédito com a formação nova. E ser
também uma prévia do que poderia se esperar dessa nova cara do TORTURE SQUAD.
Amilcar: Exatamente.
BD: Após o
lançamento de “Return of Evil”, o TORTURE SQUAD se tornou figura comum em
festivais e mesmo shows individuais de uma forma que não ocorria antes... Não
nesse número! O que mudou? As entradas de Mayara
e Rene ajudaram nesse aspecto?
Castor: Acho que não
necessariamente por esse fato apenas, quando a banda estava como trio, a agenda
de shows estava bem legal também. O que mudou foi os planos da banda nos moldes
de fazer turnês pelo Brasil tocando de segunda a segunda, isso foi o que
obviamente aumentou a nossa rotatividade de shows, na minha opinião.
Amilcar:
Na
verdade eles ajudaram a manter o trabalho que a banda sempre teve. A turnê do “Return of Evil” que fizemos em 2016,
28 shows em 32 dias, tocando durante a semana, tendo banda e crew na estrada,
assim como a turnê desse ano em um ônibus e etc, era uma coisa que sonhávamos
em fazer desde os primórdios, mas que conseguimos fazer somente agora.
Conseguimos agora porque é uma evolução do trabalho da banda e não porque é
esse ou aquele line up. Se continuássemos como trio iriamos fazer da mesma
forma. O TORTURE SQUAD é muito maior
do que qualquer um que está ou que esteve na banda.
Castor |
Amilcar: Como sempre, já
tínhamos algumas músicas prontas e assim que a Mayara e o Rene
começaram a ensaiar com a banda naturalmente começamos a nos entrosar e colocar
as ideias em prática. Todos têm ideias de tudo e particularmente gosto muito
disso. E em relação às letras, acho que só não tem do Rene...
Mayara: Nada na música
é unânime, sempre vai haver quem goste e quem não goste e essa é a grande
sacada. Somos uma banda entrosada e com muita liberdade de composição, as
ideias podem partir de qualquer um, assim como há no “Far Beyond Existence”. Você pode notar no encarte que há letras
feitas pelo Amilcar, que sendo
baterista, não se restringe apenas ao próprio instrumento, e eu como vocalista
contribuo com riffs também, há uma introdução com vozes minhas, do Castor e também do Rene... As ideias sempre vão ser trabalhadas em conjunto.
Castor: Sempre
escutamos ideias de todos e o processo de composição é bem aberto entre nós,
desde o começo da banda é assim praticamente.
BD: De certa forma,
o conceito mais central de “Far Beyond
Existance” parece remeter diretamente a algo mais sombrio que nos discos
anteriores. Existe certa “aura” negra em torno do disco, logo, essa mudança foi
intencional, ou mera consequência do processo de composição?
Castor: Não existe
conceito neste álbum, mas as letras acabam se encontrando de certa forma.
Buscamos temas bem variados, que vem
desde figuras mitológicas ate a heróis modernos como Bruce Lee. O lado sombrio vem do próprio ser humano, que em sua
arrogância não consegue enxergar a grandeza do universo!
Amilcar: O tema
principal do álbum é relembrar as pessoas que tudo é muito além da existência.
Basta você dar uma olhada no céu, olhar a lua, ou olhar uma montanha de
centenas de anos, enfim, prestar atenção na natureza e tentar responder as
perguntas que lhe vem à cabeça. Se todos fizessem isso, muitos seres humanos
chegariam à conclusão de que somos nada mais do que mais uma pequena peça nesse
grande jogo incógnita. Fazendo com que eles se colocassem no lugar deles e
tomassem um banho de humildade, dando mais atenção a valores que teriam que
estar em primeiro plano como a paz, o amor, o respeito, a honestidade. O mundo
seria melhor se todos prestassem mais atenção nas lições da natureza.
Rene |
Castor: Com o David Ingram, o contato veio através da
nossa gravadora, Secret Service Records.
Somos grandes fãs dele, principalmente na época do Benediction, que é a banda conheço mais dos trabalhos dele. Ele
passou pelo Bolt Thrower, que também
é uma banda que curto muito. Nós mandamos a gravação do instrumental e letra da
música “Hate” pra ele, e então ele
gravou as vozes diretamente do estúdio dele na Suécia.
O Edu
Lane é um grande amigo de longa data e tivemos a ideia de convida-lo a
participar desse som não como baterista, mas fazendo uma narração na música “Cursed by Disease”. Passamos a ideia
pra ele e ele captou perfeitamente! Fizemos no estúdio Loud Factory, onde gravamos as cordas e os vocais do álbum, e ele
colou lá e rolou de boa!
Na faixa “You Must Proclaim”, temos o Luiz
Lousada, vocal do grande Vulcano
e Chemical Desaster ele dividiu as
vozes com a May. Ele como é de
Santos, ficou mais viável ele gravar diretamente de lá. Curtimos a combinação
da voz dele com a Mayara!
O Alex
Camargo do poderoso Krisiun está
em “Just Got Paid”, tributo que
fizemos ao ZZTop, que tivemos a
honra de ter ele nos vocais. Ele também gravou no estúdio deles aqui em SP.
Em “Torture
in Progress”, temos o Marcelo
Schevanno, guitarrista do Carro
Bomba, Golpe de Estado e Casa das Máquinas tocando Hammond.
Gravamos todos juntos ao vivo, clima de jam session, na moda antiga, que se
tornou uma grande jam! Esse som foi totalmente gravado no estúdio Orra Meu, onde gravamos toda a bateria
do álbum também.
Amilcar: Sempre quando
podemos e pensamos numa participação que possa se tornar algo legal e que venha
a somar, a gente não mede esforços e tenta fazer acontecer. O Dave Ingram foi pelo contato da Secret Service. O Luiz, dono da label conhece ele e fez o convite, o Dave já conhecia e curte o TORTURE SQUAD, então aceitou. Até numa
troca de idéias ele comentou “Your band
kick serious fuckin ass man!”, o que fez a gente dar risada de felicidade,
porque ele é um puta vocal que cantou no Benediction
e no Bolt Thrower, duas bandas que
sempre respeitamos. O Edu é um
grande amigo das antigas e uma das pessoas que mais admiro na cena. O Luiz, que pra mim é o Batata (risos), é outro que é a cara da
cena Metal brasileira. Tocamos muito com o Chemical
Desaster na década de noventa e foi aí que cresceu a amizade que continua
até hoje. O Schevano hoje é o dono
do Rock nacional, né (risos), e teve uma música que veio a ideia de colocar um Hammond,
e ele foi a primeira pessoa que pensamos. Toca muito, curti muito a melodia e o
clima que ele criou na “Torture in
Progress”. E o Alex Camargo,
assim como o Max e o Moises, é desde sempre um dos nossos
grandes heróis, que hoje tenho o privilégio de poder ser amigo e compartilhas
dessa paixão pelo ZZTop, e ter ele
cantando essa versão com a gente é extremamente especial.
Mayara |
Amilcar:
É
uma junção de coisas. Você junta a experiência de cada gravação durante anos,
com bons produtores como o Wagner
Meirinho e o Tiago Assolini da Loud Factory, que acompanharam todas as
pré-gravações, estúdios maravilhosos como do Orra Meu e da Loud Factory,
instrumentos de qualidade, com a banda tendo a intenção de querer matar alguém
na hora de gravar (risos), acho tudo somado faz a diferença.
BD: Aliás, como surgiu a ideia de
gravarem um cover do ZZTop? No
início, é bem estranho para quem conhece a versão original, mas não é difícil
de acostumar com o enfoque mais esporrento que colocaram nela.
Amilcar: “Enfoque mais
esporrento” (risos)... Gostei disso... Todos nós curtimos muito ZZTop, eles são muito verdadeiros na
música deles, e posso falar que eu e o Castor
conhecíamos ZZTop, mas fomos
realmente doutrinados de ZZTop. Quando
a gente ia na casa dos Krisiun
quando ele mudaram pra São Paulo, no começo da década de noventa, e a gente
ficava escutando um som, fumando um, comendo pizza, assistindo luta do Mike Tyson e shows de bandas em VHS.
Eis que um dia eles colocaram o ZZTop
ao vivo do Rockpalast na Alemanha, estava preto e branco o show ainda, e partir
daquele momento o ZZTop me pegou
fundo. Então fui conhecendo tudo, tatuei a capa do “Degüello” no braço esquerdo e virou banda do coração. Por isso é
muito especial ter o Alex cantando
com a gente no álbum, porque envolve todas essas lembranças. É a celebração
definitiva de uma consideração e um sentimento muito puro e verdadeiro que
sempre tivemos pelo Krisiun, como
pessoas e como banda, desde sempre.
BD: Falando em shows: vocês passaram um
bom tempo tocando pelo Brasil, tendo a companhia do HATEFULMURDER, RECKONING HOUR e WARCURSED. Como foram os shows e a convivência com as bandas que
viajaram com vocês esse tempo todo?
Amilcar: Nos tornamos
uma grande família Metal. Um ajudava o outro, um se preocupava com o outro,
tudo em prol do mesmo objetivo, e isso foi marcante. Todas as bandas são
matadoras e merecem tudo de bom em suas carreiras.
Mayara: Nessa turnê
tivemos do nosso lado bandas de altíssimo nível de diversas regiões do Brasil,
foi muito especial para mim por ser a primeira turnê onde duas das bandas eram
lideradas por mulheres, e não importasse se eram experientes ou estreantes
todos vieram com muita garra e isso se manteve do primeiro ao ultimo show. Foi
firmada uma grande amizade entre os membros das bandas, essa união foi vital
para a boa convivência na turnê. Todos os dias a sensação era de orgulho em
estar excursionando com eles, e com certeza são bandas que vão muito longe com
seus trabalhos!
BD: Ainda sobre
esta turnê: em termos de Brasil, são raras as bandas que conseguem fazer longas
turnês, mas vocês fizeram. Qual a chave do segredo?
Amilcar:
Não
pensar só em você. Pensar no todo. Pensar em como você consegue chegar com a
sua banda até onde as pessoas querem te ver sem com que o promotor tenha
prejuízo com isso. Pensar em todos os detalhes. Uma tour de 28 shows não
envolve somente 1 promotor de show, e sim 28, então isso já traduz que a união
faz a força mesmo, e você trabalhando dentro da sua realidade, a tour sendo
marcada com bastante antecedência, sendo maciçamente divulgada tanto pela
agencia de shows quanto pelos promotores locais, não tem o que dar errado. A
cena brasileira é muito forte e o circuito está sendo costurado. Hoje podemos
corre o país praticamente inteiro em uma turnê, coisa que a Europa e os EUA têm
há anos. Tava na hora de entrar nessa, era um passo a ser dado, um passo
evolutivo pra nossa cena, foi dado e hoje é uma realidade. Agora é só todos
manterem o trabalho com os pés no chão que não tem o que dar errado.
BD: Mais uma sobre
shows: existem planos, algo de concreto, para turnês pela América do Sul,
Europa e América Central? Sim, pergunto isso baseado que “Far Beyond Existance” terá lançamento tanto no Chile como no Peru.
Amilcar:
Sim.
O álbum acabou de ser licenciado para o México e Rússia também, então ele já é
o álbum do TORTURE SQUAD com mais
licenciamentos pelo mundo. Até agora foi lançado no Brasil e como disse será
lançado no Chile, México, Europa e Rússia, então só falta alguns países da
América do sul, EUA, Canada, África, Japão e Austrália para completarmos nosso
plano diabólico de conquista do planeta (risos).
BD: e já que
falamos em lançamento, como tem sido a recepção do disco no exterior? A Secret Service Records, selo de vocês,
é de fora, logo, como está sendo o feedback? E a Secret Service Records tem atendido às necessidades de
distribuição/divulgação a contento de vocês?
Amilcar:
Está
sendo bom o trabalho deles, pelo menos até agora, tirando o lançamento na
Europa que atrasou, eles tem cumprido com tudo e tem feito o melhor para
trabalhar com a banda.
Castor: Eles estão
acreditando e fazendo tudo o que foi planejado até agora
BD: Bem, é isso.
Agradeço pela entrevista, desejo sucesso com o disco novo, e peço que deixem
sua mensagem para nossos leitores e seus fãs.
Amilcar:
Valeu
sempre a oportunidade da gente poder divulgar um pouco mais do nosso trabalho.
Espero encontrar todos na estrada!
Castor: Muito obrigado
pelo espaço, Big Daddy, sempre é muito gratificante poder ter um espaço pra
divulgar nosso trabalho!
Ouça “Cursed By Disease”, música de “Far Beyond Existance”:
Contatos:
Site Oficial: http://torturesquad.net.br/site/
Facebook: https://www.facebook.com/torturesquad/
Twitter: https://twitter.com/TortureSquad
Instagram:
Bandcamp:
Assessoria: https://roadie-metal.com/press/torture-squad/ (Roadie Metal)
E-mail: torturesquad.press@gmail.com
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